O Bloco de Esquerda (BE) relaciona o melhor resultado a nível nacional que obteve em Vila do Bispo, no Algarve, nas últimas legislativas com o facto de ter sido herdeiro da presença anterior de uma esquerda comunista.
“De alguma forma o Bloco, do meu ponto de vista, herda aqui também uma certa esquerda, que eu diria, até, comunista, se tiver em consideração que o Partido Comunista, ou a CDU [Coligação Democrática Unitária formada pelo Partido Comunista e Os Verdes], teve, pelo menos por dois ou três mandatos, a Câmara Municipal de Vila do Bispo”, explicou à agência Lusa o único membro eleito pelo BE à assembleia municipal.
O independente Luís Manuel Costa também associa ao sucesso relativo deste partido a existência no município de “uma mentalidade nova e gente mais jovem e com uma visão de futuro” que defende causas modernas, como a qualidade ambiental, a qualidade de vida e um modelo de desenvolvimento sustentável.
Segundo dados oficiais, o BE teve em 2022, nas últimas eleições legislativas, 7,12% em Vila do Bispo (156 votos), a percentagem mais elevada obtida em todo o país, onde obteve uma média de 4,46% (240.272 votos).
Depois de um ciclo de governação com a CDU à frente da autarquia, a câmara do distrito de Faro é atualmente liderada pelo PS, depois a herança comunista ter começado a perder “presença em termos da autarquia e de votação”, acrescentou aquele autarca.
“O Bloco aqui conseguiu afirmar-se um bocadinho com essa esquerda, digamos, moderna com base nas preocupações sociais e solidariedade social que são característica da esquerda. Mas, simultaneamente, trazendo a defesa de valores novos e muito importantes ao nível das liberdades individuais, do direito à diferença e do desenvolvimento sustentável”, resumiu Luís Manuel Costa.
O eurodeputado José Gusmão, que volta a ser o cabeça de lista do BE nas próximas eleições de 10 de março, também defendeu que o município da Vila do Bispo “tem uma tradição de esquerda muito forte que remonta a muito antes da própria existência do Bloco” de Esquerda.
José Gusmão recordou que uma das organizações que deu origem ao BE, a UDP (União Democrática Popular), tinha uma “forte implantação” no concelho algarvio.
“É uma tradição que se manteve e que continua a ter expressão em todas as eleições. Eu não sei se Vila do Bispo é sempre o concelho onde temos a maior votação, mas fica sempre, seguramente, entre os 10 primeiros à escala nacional”, disse o eurodeputado.
O reformado Vidal Marreiros, membro do BE que esteve em lutas da esquerda comunista ainda anteriores ao aparecimento do partido, concorda que, de alguma forma, o partido herdou o legado dessas formações.
“Posso dizer que todo o nosso trabalho a nível político nesta área tem sido sempre na condição de fazer parte da solução e não do problema. Daí que, de um modo geral, temos alguma aceitação pela população, somo vistos como tal”, afirmou.
O BE tem tradicionalmente uma boa votação, em termos relativos, no distrito de Faro.
Nas últimas eleições legislativas, em 2022, cinco dos 10 concelhos em que teve uma melhor percentagem de votação estão na região mais a sul de Portugal Continental: Vila do Bispo (7,12%), Lagos (6,66%), Portimão (6,62%), Olhão (6,24%) e Faro (6,23%).
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