O presidente do partido Aliança acredita que a coligação Alternativa 21 pode ganhar um lugar no parlamento, evocando que a sinergia com o MPT – Partido da Terra “nasce do espírito” da primeira Aliança Democrática formada em 1979.
Em entrevista à agência Lusa, Jorge Nuno de Sá lembrou a fundação dos dois partidos com base no PPM e no PSD, com as intervenções de Gonçalo Ribeiro Telles e Pedro Santana Lopes.
“Foram partidos fundados no sentido que era necessário agregar uma alternativa de direita humanista, no caso do Aliança, e, no caso do MPT, com uma vertente de ambiente mais forte. (…) Decidimos juntar estes partidos de centro-direita e direita (…) para criar uma alternativa de centro-direita com a qual se pode falar”, afirmou o cabeça de lista por Setúbal e antigo líder da JSD.
Jorge Nuno de Sá liderou a JSD entre 2002 e 2005 e chegou a ser deputado na Assembleia da República. O ex-social-democrata desfiliou-se do PSD e acompanhou Santana Lopes, em 2018, na formação do Aliança.
De acordo com o líder do Aliança, a coligação Alternativa 21 tem como um dos principais objetivos eleger o cabeça de lista por Lisboa, Nuno Afonso, fundador do Chega.
“A nossa aposta, neste momento, é evidentemente chegar ao parlamento e a nossa aposta mais forte é eleger em Lisboa o nosso cabeça de lista, o doutor Nuno Afonso, como deputado à Assembleia da República”, salientou.
Nuno Afonso desfiliou-se do Chega há um ano em rutura com André Ventura. Em 2021, foi eleito vereador municipal em Sintra pelo Chega, retirando a maioria absoluta ao PS. Após deixar o partido manteve o mandato municipal – sem pelouros atribuídos – como independente.
Caso consiga eleger deputados, o dirigente explicou que apresentará duas propostas “muito concretas”.
“A primeira é a revogação da lei da eutanásia, que é uma questão de princípio, e a segunda é um pacote legislativo que permita a valorização das carreiras profissionais”, realçou Jorge Nuno de Sá, referindo que há “uma instabilidade social criada” por greves de enfermeiros e oficiais de justiça e manifestações de polícias, professores e agricultores.
O dirigente disse que não fica “feliz por as pessoas terem de andar na rua a gritar”.
“Isso entristece-me muito. Veja-se, por exemplo, a questão dos professores, o estatuto da carreira docente. É lhes criada uma expectativa de uma carreira que ao longo dos anos vem sendo amputada, alterada e adiada. Isto não se faz. O Estado tem de ser uma pessoa de bem”, sublinhou.
À Lusa, Jorge Nuno de Sá recordou também os protestos dos agricultores.
“Os tempos que se avizinham não são fáceis e disto decorre a questão alimentar. Vemos os agricultores na rua à semelhança do resto da Europa. Dizia eu há dois anos que os preços que os agricultores comportavam para a produção estavam cada vez mais elevados. Os adubos, os combustíveis, etc. As margens cada vez mais baixas e qualquer dia íamos estar a comer papel”, atentou.
Sobre a eutanásia, o presidente do Aliança manifestou-se contra “qualquer solução que passe pela morte assistida a qualquer pessoa”.
“Não vejo a morte como solução para nada. Preocupa-me muito este conceito da morte ‘à la carte’. (…) Quando o valor da vida passa a ser negociável, nós estamos naquilo que é o pináculo da destruição da sociedade”, considerou.
Questionado sobre a habitação, o dirigente adiantou que a Alternativa 21 tem um pacote no seu programa eleitoral para resolver o problema do setor.
“Chegamos a um ponto onde tem que haver intervenção pública, quer na construção, quer na dinamização de cooperativas, e o Estado e a parte pública deixarem de ser um empecilho ao investimento privado”, observou.
O responsável deu como exemplo a construção adaptativa, em que as casas são adaptadas ao longo do tempo.
“São mecanismos muito simples que poupam na construção, que permitem mais rapidez na construção e que permitem criar soluções rápidas e mais baratas para as famílias, portanto, desburocratizar”, precisou.
Lamentando também a falta de debate sobre a política externa, o responsável alertou para os conflitos armados atuais.
“Está em curso, temos guerra no mundo, na Europa, no Médio Oriente. Se o Partido Comunista Chinês decide invadir Taiwan, temos a Terceira Guerra Mundial instalada. Alguém está preocupado com isto? Não há uma palavra sobre política externa, política de defesa. Não se fala disso nos debates”, disse.
Em relação aos resultados nas eleições dos Açores, onde a Alternativa 21 obteve apenas quatro votos, Jorge Nuno de Sá esclareceu que foi um teste.
“Nos Açores não fomos às eleições, não fizemos absolutamente nada. Era uma tentativa de criar a coligação para ver como é que funcionava. Neste momento, estamos empenhados e temos listas na larga maioria dos círculos nacionais”, concluiu.
A Alternativa 21 apresenta candidatos em 17 círculos eleitorais: Aveiro, Beja, Braga, Bragança, Coimbra, Évora, Faro, Guarda, Leiria, Lisboa, Portalegre, Santarém, Viana do Castelo, Viseu, Madeira, Europa e Fora da Europa.
João Moura Lacerda (texto) e José Sena Goulão (fotografia), da agência Lusa
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