Esta semana, fomos visitar a Praia Maria Luísa, em Albufeira. Encaixada entre arribas, esta praia possui uma linha de água que flui até ao extenso areal em dias de chuva, formando um barranco. O acesso é feito por caminho de terra batida. À chegada existe um parque de estacionamento que inclui lugares reservados para pessoas com mobilidade reduzida. É uma praia vigiada, com apoio de restauração, aluguer de toldos, área para actividades desportivas e distinguida com o galardão Bandeira Azul.
Ao serviço encontrámos dois nadadores-salvadores, Mafalda Magro e Hugo Roque.
Mafalda Magro, de 23 anos de idade e vinda de Portalegre, conta-nos que a sua “carreira” como nadadora-salvadora começou quando terminava a sua licenciatura, ”surgiu a oportunidade de fazer o curso de NS e, apesar de todo o trabalho e projectos que tinha pela frente, decidi aproveitar, porque senti que iria ser uma coisa positiva e me iria fazer crescer em todos os aspetos. Investi o meu dinheiro, tempo e até saúde, mas consegui! Terminei aqueles 30 dias com o certificado na mão. Cansada, mas feliz, e com a certeza que estava preparada para salvar vidas onde quer que fosse”.
Mafalda continua: “Procurei, imediatamente, propostas para a zona de Lisboa e foi então que me contrataram para a Costa da Caparica. Comecei, então, uns dias após terminar o curso, a trabalhar no Bar Waikiki, na Praia da Sereia, onde me mantive durante dois anos consecutivos. Esses dois anos foram realmente um turbilhão de emoções, com um nível de aprendizagem que eu nunca irei esquecer. Foram muitos os casos que me passaram nas mãos, tanto na água como em terra. Desde fazer salvamentos uma tarde inteira sem parar, a ataques de epilepsia, hipoglicemia, hipotermia, até fracturas graves e, claro, o famoso peixe- aranha. Tudo isto passou pela minha praia e teve que ser gerido por mim e pelos meus colegas todos os dias”.
No último inverno, Mafalda recebeu uma proposta para fazer parte de uma equipa de nadadores-salvadores no Algarve, na praia de um hotel de uma cadeia internacional. “E aqui me encontro, na Praia Maria Luísa, a vigiar a praia com mais queda de arribas do país, onde esse é, até agora, o seu único perigo”. Para concluir, Mafalda acrescenta, “nestes meus 3 anos de profissão, percebi que muitas pessoas estão desinformadas acerca dos perigos que podem surgir quando se está numa praia e, por isso, eu aconselho todos os banhistas que se protejam do sol, mantenham o seu corpo fresco, tenham cuidado com as arribas e, principalmente, respeitem as indicações e ordens dos nadadores-salvadores. Eles sabem o que dizem e só querem o seu bem!”
Ao lado de Mafalda está o seu colega Hugo Roque, vindo da Figueira da Foz. Hugo diz que, até aos 26 anos, encheu o seu currículo de trabalhos duros e profissões banais, nas quais só trabalhava para ganhar algum dinheiro. Em 2009 resolveu, então, que só queria fazer coisas que o motivassem a ser uma pessoa melhor e que iria abraçar um trabalho que lhe desse prazer. “Em conversa com um amigo que exercia a profissão de nadador-salvador percebi que este seria, definitivamente, um trabalho que me iria dar prazer e me iria fazer aprender coisas novas e interessantes. Assim, investi o meu dinheiro, fiz o curso, passei nas provas e, logo depois, recebi uma proposta e comecei a trabalhar nas Piscinas Municipais de Vale de Ílhavo, onde fiquei uma época completa”.
A experiência em piscina não motivou Hugo e “resolvi começar a procurar propostas que se identificassem mais comigo. Foi então que descobri uma praia fluvial, onde trabalhei durante três anos como nadador-salvador. Mais tarde, recebi uma proposta para trabalhar perto de casa, na Praia do Relógio, onde também fiquei mais três anos”.
Há dois anos atrás Hugo foi contactado para trabalhar numa companhia de hotéis famosa, a Club Med, no único hotel da cadeia existente em Portugal. “Foi assim que vim viver para o Algarve, trabalhando numa praia pequena e tranquila chamada Praia Maria Luísa. Apesar de tranquila, tem a triste fama de matar pessoas pela queda das suas arribas, apesar de os perigos já não serem tão evidentes como há 2 anos atrás! Ao longo destes 9 anos de profissão, tenho assistido a episódios complicados, dentro e fora de água, e tenho aprendido a resolver casos de uma forma paciente e eficaz. Posso dar pequenos exemplos como: resgatar, sem meios de salvamento, uma grávida de vários meses, ajudar em casos de fracturas expostas, pessoas subterradas, ataques de hipoglicemia, AVC’s, entre outros”.
Hugo termina a entrevista aconselhando ”todos os banhistas a protegerem-se do sol, informarem-se sobre o estado do mar antes de se aventurarem, leiam com atenção as placas de aviso de perigo eminente, optem sempre por praias vigiadas e levem sempre em consideração as indicações dos nadadores-salvadores”.
E, assim, foi o nosso dia passado com os nadadores-salvadores da Praia da Maria Luísa em Albufeira.
Artigo publicado no âmbito da parceria entre o POSTAL e Filipe Lara Ramos ‘Verão com Melão’.
Esta rubrica destina-se a sensibilizar a população e fomentar a segurança nas praias durante a época balnear de 2017.
(NOTA: Os conselhos e indicações expressos neste artigo não dispensam o seguimento pelos leitores das regras gerais de segurança nas praias e das indicações das autoridades competentes em cada zona balnear).