Sinto-me a envelhecer, e, com isso, surge uma profunda reflexão sobre o envelhecimento nos dias de hoje. A caminhada de vida que trilhamos é, sem dúvida, distinta daquela que os nossos pais enfrentaram. A nossa história, repleta de desafios inéditos, inovações e ambientes em constante transformação, exige uma abordagem renovada ao envelhecer que mantenha a nossa qualidade de vida, as ligações sociais e familiares, o sentimento de pertença, de utilidade, de felicidade, de saúde física e mental.
No entanto, as respostas sociais existentes muitas vezes mostram-se desconectadas das necessidades reais de socialização, saúde e felicidade dos que se encontram nessa fase da vida. É chegado o momento de mudar a nossa perspetiva sobre o envelhecimento, encontrar respostas mais ajustadas ao perfil da população atual e prevenir e promover a saúde física e mental, a alegria, o bem-estar e, acima de tudo, prevenir o isolamento que muitos enfrentam, especialmente aqueles que tanto contribuíram para a sociedade e que agora se sentem sozinhos, desamparados, banidos, muitas vezes com filhos distantes e sem o apoio que merecem.
Esta nova geração de adultos maiores traz consigo uma experiência de vida diferente, crescendo num mundo de avanços tecnológicos e transformações sociais, carece de estímulos e cuidados diferenciados, e, por conseguinte, deseja participar na vida comunitária, explorar novas atividades e compartilhar as suas histórias e conhecimentos de forma significativa, perpetuando os seus conhecimentos e legados para as gerações futuras. É, portanto, essencial que as iniciativas voltadas para esta faixa etária reconheçam essas particularidades e se adaptem às suas necessidades específicas. É, também, fundamental, ter em conta os interesses e gostos destes novos adultos mais velhos, estimulando as suas paixões e combatendo a profunda tristeza que muitas vezes assola os seus corações. Cada idoso carrega consigo uma rica tapeçaria de experiências, conhecimentos e legados que merecem ser celebrados, não escondidos nas sombras do esquecimento.
Se alterássemos a nossa perspetiva em relação a estes sábios da vida, se reformulássemos as campanhas de prevenção, políticas sociais e as respostas comunitárias em relação a esta comunidade, poderíamos garantir um envelhecimento repleto de respeito, saúde, cuidado e alegria. Do mesmo modo, a sensibilização em diversas áreas, incluindo a educação desde a infância sobre a importância do respeito pelos mais velhos e pelo seu legado, é essencial para alcançarmos uma sociedade mais equilibrada e harmoniosa. Ter em conta estes fatores é de extrema importância dado que o envelhecimento populacional está prestes a tornar-se uma das transformações sociais mais significativas do século XXI, com implicações transversais a todos os setores da sociedade – no mercado laboral e financeiro; na demanda por bens e serviços como a habitação, os transportes e a proteção social; e nos laços intergeracionais que sustentam as estruturas familiares. Segundo as Nações Unidas, estima-se que o número de pessoas com 60 anos ou mais duplique até 2050 e mais do que triplique até 2100, passando de 962 milhões em 2017 para 2.1 bilhões em 2050 e 3.1 bilhões em 2100.
As pessoas com mais de 65 anos têm, cada vez mais, de ser percecionadas como contribuintes valiosos para o desenvolvimento, e, as suas competências, interligadas a políticas e programas transversais. Deste modo, são necessárias respostas fundamentadas na participação comunitária, que garantam a manutenção da independência por meio de cuidados alternativos.
A criação de estruturas, intervenções comunitárias e políticas que se conectem com a natureza atual da vida dos nossos adultos mais velhos permitirá que cada um de nós tenha a possibilidade de envelhecer saudavelmente. Deste modo, intervenções comunitárias intergeracionais, políticas de promoção do bem-estar físico mental e social, e o investimento na prevenção e formação de equipas de cuidados capacitadas para promover a saúde mental e a alegria de viver serão, manifestamente, as verdadeiras necessidades do nosso tempo.
Sabemos que em regiões chamadas “Zonas Azuis” como Okinawa, no Japão, as montanhas da Sardenha, em Itália, e Icária, na Grécia, onde habitam uma grande proporção de centenários que envelheceram sem doenças e vivem mais e melhor, se destacam fatores como o apoio comunitário, a união familiar, o sentimento de utilidade e de pertença, o propósito de vida, a atividade física, a adoção de rotinas que diminuam o stress, a alimentação e hidratação saudável e equilibrada (por exemplo, 95% da dieta é rica em legumes, fruta, vegetais e cereais integrais) e até a crença. A longevidade e alegria de viver nestas zonas, prende-se, assim, com comer com sabedoria, o movimento, a conexão com outras pessoas e o sentido de propósito. Todos estes fatores importantíssimos para um envelhecimento feliz e acolhedor.
Lançando uma luz sobre estes dados em Portugal, temos neste momento segundo os dados da Pordata de 2024, uma população de 2.5 milhões de pessoas com mais de 65 anos, na qual se inclui o maior número de centenários, mais de 3000. O crescimento da população portuguesa com mais de 65 anos tem tido um crescimento anual de 2 por cento desde 2019.
O futuro que almejamos não pode ser uma existência enclausurada. Devemos sonhar com um envelhecimento vibrante e ativo, onde cada experiência é um convite à vida, e cada dia representa uma nova oportunidade de celebrar o que é ser humano. Que possamos, então, cultivar um mundo onde o envelhecer é uma jornada de encantamento e descoberta, onde a dignidade e a alegria sejam as companheiras constantes nesta fase tão rica da vida, em vez de um destino solitário.
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