Os recentes trágicos acontecimentos, e não quero dizer os últimos porque infelizmente ainda poderemos ter mais do mesmo teor, tornaram este desabafo inevitável porque tudo isto não é algo característico só destes dois anos recentes mas muito mais profundo e anterior.
E nunca será corrigido sem haver uma análise completa que explique quais as causas reais destas catástrofes que não foram só estes incêndios assassinos e destruidores de riqueza mas também as corrupções, as espoliações, os roubos, os enganos e as mentiras que durante as últimas três décadas assolaram o nosso País, não bastando analisar, mas tendo que haver reconhecimento dos implicados, pois ter apenas a consciência tranquila não chega, dada a verdade nos recordar a sentença dita por alguém, que não sei quem foi, de que uma consciência tranquila é quase sempre o resultado de uma memória fraca.
Porque para alguém se corrigir é preciso que assuma os erros cometidos.
Concretizando apenas alguns exemplos de acontecimentos de que não se apontam responsáveis:
– O Pinhal de Leiria ardeu e há dez anos que não era limpo e pertence ao Estado.
– Está regulamentada a distância de existência de árvores em estradas municipais mas parece que algumas Autarquias não sabem isso.
– A maioria da legislação relativa à gestão do interior rural há muitos anos que precisa de revisão mas nem os Governos nem o Parlamento trataram disso atempadamente de forma evitar estas catástrofes embora houvesse pareceres técnicos suficientes.
– Houve a destruição da nossa Marinha Mercante e o atraso da Marinha de recreio em milhares de postos de trabalho em projetos concretos não permitidos esquecendo o facto desta atividade ter sido e dever continuar a ser a mais importante para a independência e para a identidade portuguesa.
– Houve uma crise financeira provocada principalmente pela ganância desenvolvida pela incompetência da introdução de um sistema de neoliberalismo bacoco de que tiraram benefícios apenas alguns com o prejuízo de muitos sem que os Órgãos de Soberania e os poderes corporativos tivessem actuado em conformidade com as suas obrigações estatutárias.
Estes exemplos chegam para mostrar claramente que as duas causas essenciais foram: a ganância pelo dinheiro fácil, que na nossa história tantas vezes nos prejudicou, e a ausência sistemática de responsáveis competentes, o que obviamente não permite corrigir os desmandos e erros praticados.
Quando agora vemos tanta pressão para demitir uma ministra que de facto apenas não tinha o perfil apropriado mas não vemos por exemplo ex-ministros e ex- deputados que recentemente estiveram no poder assumirem as responsabilidades que também têm pelo facto de nada terem feito quando era devido, chega a parecer que se assim fosse provavelmente haveria muitas outras demissões.