É impossível discordar da proposta do Observatório Português dos Sistemas de Saúde na sugestão de que o médico só os possa prescrever após identificar a causa da infecção. Trata-se de uma proposta dirigida objectivamente ao médico, é uma parte de um vastíssimo todo. Lembre-se que no final do mês de Junho a Comissão Europeia adoptou um novo plano de acção para combater a resistência aos agentes antimicrobianos, com o nome ‘Uma Só Saúde’. Diz-se claramente que o aumento desta resistência se deve a um conjunto de factores: a utilização excessiva e inadequada de antibióticos nos seres humanos, o uso veterinário excessivo na produção animal e a falta de condições de higiene em contextos de prestação de cuidados de saúde ou na cadeia alimentar. E há aquela dimensão gravíssima da falta de sensibilização para a gravidade deste atentado à saúde pública: 57% dos europeus não sabem que os antibióticos são ineficazes contra os vírus, 44% não sabem que são ineficazes contra as constipações e a gripe. Concorda-se, pois, com as sugestões que o observatório faz quanto às medidas para melhorarem a informação sobre prescrição e uso de antibióticos, bem como medidas administrativas para restringir os de largo espectro.
Contudo, não desvalorizando minimamente o papel da prescrição médica, a questão das resistências aos agentes microbianos é pluridimensional: envolve legislação em matéria de monitorização e comunicação da resistência aos antimicrobianos nos animais, nos alimentos e nas pessoas; impõe parcerias entre os Estados-membros e a indústria, programas de parceria para melhorar os conhecimentos em matéria de controlo e vigilância eficazes das infecções, uma maior cooperação com os países em desenvolvimento mais afectados. Combater a resistência a antibióticos é mesmo um problema de todos.
Nos consultórios médicos, as farmácias, nos centros de saúde, nas unidades de cuidados continuados, nos estabelecimentos de ensino, nas faculdades e em muitos mais espaços, há que despender informação de que este uso abusivo introduz novas resistências, pois as bactérias sofrem alterações ou mutações de forma a conviver com os antibióticos. O que o observatório vem dizer é que compete ao médio prescritor zelar por um uso prudente dos antibióticos. Mas o médico prescritor está sujeito a inúmeras pressões, e às vezes cede. Quando prescreve, é verdade, deve seleccionar o antibiótico mais indicado e a dose do tratamento mais adequadas.
Mas há uma frente comum de combate a esta resistência, que não deve ficar para trás: os enfermeiros, os doentes, os encarregados de educação, todos devem ser envolvidos na resistência aos antibióticos. Impõem-se novos modelos de comunicação na educação para a saúde, desenvolver acções preventivas, e todos os profissionais de saúde deverão ter um discurso em que se diga frontal e insistentemente que a grande maioria das infecções comuns não é tratada por antibiótico. Ficamos todos a ganhar: na saúde individual, na saúde pública, na credibilidade dos profissionais de saúde e até enquanto doentes responsáveis que devemos ser; e sabendo todos que o dinheiro para a saúde não é desviado com tratamentos desnecessários.