Dezembro de 2000 – A Carta
A livre circulação dos trabalhadores é um princípio fundamental consagrado no artigo 45.º da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, no capítulo <Cidadania>. A Carta, adotada em Dezembro de 2000, era a princípio apenas um compromisso político.
Com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, a 1 de Dezembro de 2009, a Carta passou a ter força de lei. Assim, ao abrigo do princípio da “Liberdade de circulação e de permanência”, os cidadãos da União Europeia (EU) passaram a ter direito a:
1) procurar emprego noutro país da UE;
2) trabalhar noutro país da UE sem necessitar de uma autorização de trabalho;
3) residir noutro país da UE para aí procurar emprego ou trabalhar;
4) permanecer noutro país da UE mesmo após aí ter deixado trabalhar;
5) usufruir do mesmo tratamento que os nacionais do país em questão no que se refere ao acesso ao emprego, condições de trabalho e todos os outros benefícios sociais e fiscais.
Os cidadãos da UE também podem transferir determinados tipos de cobertura médica e social para o país para o qual se mudam, para procurar emprego ou trabalhar.
Os novos imigrantes
É nesta “nova liberdade” que vivem e se “movem” os nossos filhos, os “novos emigrantes”. A mobilidade traz possibilidades novas, ou pelo menos maior facilidade e celeridade, para quem quer estudar, trabalhar, casar, ter filhos,… Mal comparado, salvaguardadas as distâncias, também eles procuram “refúgio” num país estranho onde, apesar do quadro legal, favorável, permanecem reais as barreiras linguísticas e culturais,..e é real também a distância física em relação a “casa” (apesar das maravilhas das novas tecnologias) e há preconceitos a vencer (de parte a parte)… porque há sempre duas faces da mesma moeda e, neste caso, há mesmo, também uma outra moeda. São a geração do zapping (Z) e da Mobilidade (M).
Os novos imigrantes, os nossos filhos, procuram além-mar, como outrora, melhores condições de vida. Partem com saudade já do nosso sol, do céu azul, do clima ameno, do convívio fácil. Fogem da falta de oportunidades, dos salários baixos, de muitos preconceitos (ainda), de uma educação cara e por vezes demasiado longa, …para estudar, para empreender, para casar para ter filhos,… Saem de casa as 8h para regressar a partir das 17h, já noite. O dia nesta altura do ano é muito curto, 7 ou 8 horas luz comparadas com as nossas 11 ou 12 . Céu azul e sol em 15 dias vi-os uma vez. Mas diz-se da Dinamarca que é o país onde “a criança é rei” e há uma probabilidade grande de que os meus netos sejam “danskere “(dinamarqueses)!
Dezembro de 2020
Foi o quadro legal da “Carta”, aprofundado ao longo dos últimos 20 anos entre os países da União Europeia, que me permitiu a mim, mãe de filhos da geração ZM e apesar do confinamento ditado pela pandemia, ser autorizada a viajar, para passar o Natal com a minha filha mais velha e o noivo, que estudam, trabalham e vivem em Copenhaga.
Segundo informação prestada pela secção consular da Embaixada de Portugal em Copenhaga realizei teste covid 72 horas antes da partida, atestado depois, no meu centro de saúde, num formulário fornecido para o efeito, em inglês. A prova do laço familiar, através da certidão de nascimento, foi também ela traduzida para o inglês. O centro de saúde como o cartório notarial, com quem marquei com a devida antecedência, trataram de tudo com diligência e rapidez. Acrescentei a esses documentos a cópia do cartão de residente na Dinamarca da minha filha e a minha própria identificação, o cartão de cidadão e o passaporte – apenas por precaução, uma vez que a Dinamarca pertence ao Espaço Schengen, um espaço europeu sem fronteiras, que é anterior à própria “Carta”.
Ser pai ou ser mãe é uma tarefa ingrata, mas só até ao momento em que os nossos filhos se tornam adultos e começam a trilhar os caminhos que os tornarão independentes, em todos os aspetos… e sabemos que valeram a pena todos os esforços se os vemos equilibrados e felizes, ou pelo menos com a garra necessária para encarar os desafios… Dezembro de 2020 foi um desses gratos momentos!
Copenhaga, um porto gigante
A Dinamarca é uma Monarquia constitucional formada por várias ilhas e só tem fronteira natural com a Alemanha. A fronteira com a Suécia é artificial e data de 2000. Aderiu a União Europeia em 1973 (13 anos antes de Portugal) e não pertence a Zona EURO. A moda nacional é a coroa dinamarquesa que vale 0,14 Euros – Tudo assim nos parece muito mais caro: um frango custa cerca de 4 euros, 1Kg de farinha 3 euros e 1 litro de azeite pode custar 10 euros.
Copenhaga é a capital e a maior cidade do país e o seu nome significa “Porto do mercador”. E parece de facto um gigante porto.. água, barcos redes, gaivotas nos canais e em terra.. E nos canais, junto aos edifícios mais modernos, há varandas flutuantes para aproveitar o sol e o ar livre e faz-se canoagem e paddle. No porto novo, Neuhaven (Nyhavn em dinamarquês) o nº 21 é a casa onde viveu e escreveu , Hans Christian Anderson, o conhecido escritor de intemporais contos infantis. Já lá tinha estado há mais de 20 anos, ainda jovem e da memória dessa guardo os restaurantes abertos, com as esplanadas cheias de pessoas de muitos lados, todos com uma manta pelas pernas, com o padrão do restaurante, e o sabor do peixe cru (quando ainda não era vulgar o sushi em Portugal).
“Faça chuva ou faça sol” as ruas estão cheias de crianças e a bicicleta é o meio e transporte mais comum: com cadeira, com cesto, elétricas, a pedal, de montanha de cidade…longos kispos, gorros, cachecol, luvas e botas quentes …obrigatório,..(para além da máscara) . O passeio ribeirinho, ao longo do canal que vai da Ópera até junto da pequena sereia é um museu ao ar livre. No final, um carrinho de venda ambulante distribui café quente e cookies de chocolate que fazem esquecer por momentos o frio intenso desta época em Copenhaga enquanto se espera a vez de tirar a fotografia obrigatória junto ao símbolo da cidade, ele também evocativo de Andersen .
Glædelig jul (Feliz Natal)
E o meu Natal foi, sem sombra de dúvida, diferente… com o bacalhau da consoada e o Bolo-rei (muitos ingredientes trazidos de Portugal) mas também salmão vegetais, pão escuro e “bebidas quentes”: Smorrebrod (montaditos de pão de centeio), Glogg (vinho quente com especiarias) e Flodeboller (uma base de maçapão com uma dose de merengue, tudo coberto por uma camada fofa de chocolate negro dinamarquês – muito semelhantes às nossas “bombocas”) e as Aebleskiver – Bolinhas de massa doce acompanhadas com doce maçã e açucar em pó (“ sonhos” de natal como os que se comem muitas regiões de Portugal).
Sob um frio exterior intenso (alguns flocos de neve mas sobretudo geada), demos longos passeio no Parque mais próximo “ValbyPark”, onde patos, esquilos e muitos pássaros, estranhos para mim, nos fazem companhia. As compras nos mercados locais (os possíveis), fizemo-las de bicicleta, assim como os caminhos que nos levaram à descoberta dos trolls ou dos muitos monumentos desta magnífica cidade onde contei pelo menos 10 pontes..
E dentro de casa, forrada de madeira, com grandes janelas que aproveitam o máximo das poucas horas de luz, com o aquecimento sempre ligado , longas conversas, risos, muitos mimos e a reunião de família, sem a qual não seria Natal , este ano por zoom, entre Copenhaga, Dublin, Lisboa, Viseu, Torres Vedras, Silves e Faro
Curiosidades sobre a Dinamarca
1. “O Bluetooth é vicking” Lê-se no site oficial: “O rei Harald Bluetooth ficou famoso por unificar a Escandinávia da mesma maneira que tentamos unificar as indústrias de computadores e telemóveis com uma conexão sem fio de curto alcance”.
2. A cerveja preferida dos dinamarqueses é a portuguesa superbock
3. Copenhaga é uma ilha
4. A gronelândia e a as ilhas faroé pertencem à Dinamarca
5. É a monarquia mais antiga do muno (com 11 seculos)
6. 99% da população judaica na Dinamarca na 2º GG foi salva pela resistência dinamarquesa
7. O desporto mais popular é o futebol mas o DiscGolf ganha adeptos
8. Copenhaga é reconhecida como a cidade com melhor qualidade de vida do mundo
9. Em 2013 Copenhaga foi Capital verde da Europa
10. A pequena sereia é uma homenagem a Hans Chirstian Andersen
11. A ligação entre a Dinamarca e a Suécia faz-se, desde 2000, pelo Oresundbron, metade túnel sob o canal flint e metade ponte (8 km)
12. A Dinamarca tem metade do território e metade da população de Portugal e maior densidade populacional (129 h/ Km2)
Tak Danmark!
Não fora o confinamento e teria visitado a Fábrica da Carlsberg, um lugar mágico guardado pela porta dos elefantes, os castelos, os museus, e… tantos outros lugares. Mas regressei de coração cheio, feliz porque os miúdos estão bem, integrados e sobretudo felizes com as suas escolhas!
Talvez a nossa vocação seja mesmo continuar a levar Portugal ao mundo. Talvez a alma portuguesa seja demasiado grande para caber aqui! Em 2021 com Portugal à frente dos destinos da Europa, eu pessoalmente, proponho-me: comer, ler e sorrir – comer melhor e sem desperdício, ler muito para participar mais ativamente e sorrir sempre, com muita esperança ainda no Homem e no “presente” que é cada dia do futuro que nos espera.
Tak filhos por me receberem e mimarem! Tak Danmark! Obrigada, por receberes e por cuidares dos nossos filhos!
A todos, continuação de Godt nytår (Feliz Ano Novo)!
Para quem quiser saber mais:
https://www.dn.pt/edicao-do-dia/19-jan-2019/estudar-la-fora-obriga-a-trabalhar-mas-consegue-se-uma-vida-melhor-10458903.html, Diário de Notícias
Portugueses/Dinamarqueses – Portugueses na Dinamarca, Ana Bernardo
Ajuda e aconselhamento para os cidadãos da UE e seus familiares – Your Europe (europa.eu)
FOTOGRAFIAS da viagem #MaeemDnk
O Centro Europe Direct Algarve é um serviço público que tem como principal missão difundir e disponibilizar uma informação generalista sobre a União Europeia, as suas políticas e os seus programas, aos cidadãos, instituições, comunidade escolar, entre outros. Está hospedado na CCDR Algarve e faz parte de uma Rede de Informação da Direcção-Geral da Comunicação da Comissão Europeia, constituída por cerca de 500 centros espalhados pelos 28 Estados Membro da União Europeia.
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