Independentemente de tudo o que possamos dizer da Europa considero que este continente é certamente um dos território terrestres mais agradáveis e fascinantes de se viver nos nossos tempos. Ainda que se encontre alguma pobreza, corrupção e ganância distribuídos irregularmente pelos estratos sociais e pelas diversas regiões/países europeus, consegue ser um local sem fronteiras, de paz, democracia, oportunidade e com um sistema monetário uno (na maior parte dos países), no qual a cultura, as artes, o património, os saberes, a gastronomia, os hábitos, tradições e costumes típicos de cada região/país coabitam com a visão política económica e social de transmissão livre de bens, pessoas e informação, dentro de um conceito de globalização. Salada essa que se vai complementando e ajustando conforme a identidade, necessidade e sentido territorial de cada país, num espírito, sempre que possível, cooperativo e que assim faz esta União Europeia.
Sem dúvida um território considerável, com cerca de 500 milhões de habitantes, distribuídos por 27 estados membros, com 24 línguas oficiais, que tem sido palco ao longo dos séculos de diversas tensões geopolíticas, convulsões sociais e conflitos graves entre algumas das suas “tribos”, que só se diluíram após a 2ª guerra mundial e se desvaneceram praticamente com a globalização e um acordo coletivo de um projeto europeu. E foi este último, na minha opinião, que tornou a Europa num dos melhores sítios para se nascer e viver e uma referência ao nível político, social, económico e cultural, onde as liberdades pessoais e coletivas vão estando bem definidas, por deveres e direitos delineados e conquistados pelas populações e geridos por uma governança dentro do possível rotativa e cumpridora (mesmo que por vezes questionável e constantemente tentada pelas regalias, corrupção e o poder) mas que ainda assim vai definindo a Europa, e os seus estados membros, como um espaço coletivo, colaborativo, de comunicação, de expressão, criatividade, oportunidade, mobilidade, prosperidade, de crítica e pensamento livre. Uma Europa feita de vários povos, onde cada um se rege por modelos sociais, políticos, económicos e culturais ligeiramente diferentes mas que na maioria são conduzidos pela governança moderada, síncrona, segura, democrática e socialmente tolerante, que tem permitido uma estabilidade e um estilo de vida aos seus cidadãos invejável, atrativa e que faz sonhar milhões de pessoas de todos os continentes. Pessoas essas que nos visitam regularmente através do conceito turístico ou que procuram mesmo residência, em fluxos migratórios oriundos de todo o mundo, sendo o mais significativo e evidente o vindo do Norte de África e Médio Oriente, numa fuga da guerra, da fome e da miséria.
É hoje este fluxo, que se acumula às portas e portos da Europa, e que é para mim um dos maiores testes do projeto europeu, que parece contrastar com os valores e visão de futuro aquando da constituição europeia, aquela sem fronteiras, aquela que me permitiu aos 13 anos e depois aos 27 participar em programas de mobilidade escolar, de experimentar um mundo e realidades diferentes, de vivenciar o nomadismo, a migração, de uma forma segura e tão prematura. Que me permitiu sair da minha realidade, e de conhecer outras realidades, culturas e modos de estar e viver, naquela que foi para mim a concretização da “Alegoria da Caverna”, tal como aprendi com Platão, nas aulas de filosofia. Essa possibilidade que caracteriza o projeto Europeu, que fez e faz com que tantos jovens e adultos saiam das suas “cavernas”, e que me define hoje enquanto ser pensante, e dentro do possível consciente e empático com outras realidades, crítico e participativo no meio onde vivo, devido à comparação, e que me ajuda todos os dias a redefinir ou defender hábitos, costumes e tradições pessoais e da tribo que me é mais próxima, dos territórios onde nasci e onde vivo.
Esse êxodo que está hoje suspenso no tempo e no espaço, que conduz à promessa do projeto europeu, mas que aguarda impacientemente a entrada na Europa da prosperidade entre os vários povos, as várias culturas, que me possibilitou, enquanto indivíduo, poder estudar, conhecer, viajar, experimentar, crescer pessoalmente e ter hoje um estilo de vida bom, digno e aceitável. Ainda assim é essa acumulação humana, cada vez maior, que esbarrou com a incapacidade e indefinição do concelho tribal de chegar a um consenso e a uma ação concertada de auxilio a outros povos além fronteiras, e também esbarra com os preconceitos dos europeus, que fazem acordar memórias, da divisão humana assente, mais que nas crenças e hábitos culturais divergentes, no medo da perda de uma identidade, a europeia, sendo esse o perfeito contrassenso. Um mesmo medo que cria a raiva e o ódio do próximo, e aumenta fronteiras, conflitos, guerras, fome e miséria.
Paralelamente a isto, e quem sabe esteja relacionado com a impotência de resolver este “problema”, parece que o projeto europeu se esforça e tem o seu foco e grande parte dos recursos aplicados na criação de um modelo governativo federalista, por vezes confuso até para o cidadão informado. Um modelo de governança total sobre o território, baseado sobretudo no existente nos Estados Unidos da América, e que de alguma forma reflete a ambição de poder sobre todo o território europeu, de Napoleão, Hitler, e outros monarcas e imperadores distantes.
Mas ao contrário dos Estados Unidos que surge e nasce da aniquilação de praticamente todas as culturas indígenas, unificando assim o território sobre uma só, a cultura anglosaxónica, a Europa tem na sua génese uma constituição e organização bastante tribal e pluricultural, que sobreviveu ao império romano, como é tão bem ilustrado pelos nosso amigos Asterix e Obelix. Que mais tarde se desenvolve para as monarquias e os grandes reinados.
Ao compreender o padrão cultural desta Europa, enquanto um organismo dinâmico de diversos povos, com tão diferentes culturas, línguas, hábitos e tradições, torna-me mais fácil compreender as suas dinâmicas e a dificuldade de unificar e homogeneizar culturalmente este território. Mas também me faz questionar esta vontade e determinação política, bem como algumas medidas que tem vindo a ser adotadas, tendo em consideração que este espaço pluricultural tem conseguido conviver em paz e prosperado conjuntamente num modelo de concelhia, de relativo respeito, onde cada dirigente, devidamente eleito no seu território tem o seu lugar, a sua voz e capacidade de decisão e votação nesse mesmo concelho. Criar um parlamento e governo uno federativo, que determina leis e regras para todo o território será na minha opinião redutor, perigoso e propagador da monocultura, que terá cada vez maior dificuldade em entender a especificidade de cada território e estará cada vez mais distante e incapaz de ouvir as pessoas, de cada estado/país/tribo, bem ilustrado pela pirâmide. É um modelo também mais suscetível aos encantos e tentações dos interesses e lobbies megacorporativos, que procuram influênciar políticas e legislação, e que estão constantemente sentados à porta dos gabinetes, ou por vezes à mesa do almoço, de difícil controlo e escrutínio público. Para além de ser, na minha opinião, perigoso estabelecer cargos de controlo politico sobre todo este território, a ambição histórica de tantos imperadores.
Compreendendo e avaliando a progressão do projeto europeu pode-nos ajudar a melhor desenhar um sistema organizativo e colaborativo entre os diversos países que constituem a Europa. Vejo-a como um espaço uno mas plural, com uma economia e ecologia cooperativa, colaborativa e disponível entre estados ou povos, sem fronteiras, mas repleto de diversidade cultural, criatividade, de abundância em vez de escassez, que teria sempre em conta as pessoas, o meio natural e distribuição justa da riqueza e recursos entre si. Um modelo de organização baseado na autonomia nacional, mas contribuindo do apoio, partilha e colaboração internacional, num espaço de comunicação, sem fronteiras, e de economia comunitária que permitisse a rápida e eficiente redefinição ou ajuste dos recursos e sistemas territoriais perante as adversidades (que não aconteceu agora com a pandemia mesmo com um parlamento a funcionar). Que estimulasse a participação ativa e ação das pessoas na criação de soluções inovadoras e adequadas aos meios e recursos dos seus territórios. Soluções plurais e inovadoras, que poderiam passar por exemplo por novos sistemas económicos onde diferentes tipos de moedas de troca, regionais, nacionais e europeias coabitassem e que permitissem um fluxo económico e social mais dinâmico internacionalmente, mas também maior resiliência e autonomia em cada um dos territórios.
Um modelo que poderia não ser perfeito, mas seria eticamente ideal, que poderia não cumprir o previsto inicialmente aquando do seu desenho e implementação, mas que seria flexível, sensível e ajustável às necessidade do território e das pessoas. Um modelo que permitisse à população conhecer e partilhar outras realidades, oportunidades, comportamentos e hábitos, que estimulassem a curiosidade, a compreensão e a empatia com outras culturas, que promovessem a capacidade de dar, receber, aprender e ensinar a pensar e a viver. Tendo em conta que se a cultura europeia se tornar homogénea, monocultural, de fraca (bio)diversidade perder-se-á certamente muito conhecimento do saber fazer e estar em cada território, e que dessa forma tornará uma “floresta” mais pobre, vulnerável e menos tolerante às “doenças”, “intempéries” ou “catástrofes” naturais, e dessa forma mais receosa e incapaz de resolver situações como as que se estão a passar às portas da Europa e margens do mediterrâneo. Uma Europa policultural, sem fronteiras, cooperativa e positiva na política externa, e cada vez mais focada e empenhado na regeneração e na diminuição do impacto ambiental, são a meu ver os valores fundamentais para a sobrevivência e continuidade do projeto europeu, e de mudança positiva no mundo. Considero que a Europa pela sua história, progresso e padrões de vida atingidos, tem sido e ainda é o farol do mundo, e mesmo das grandes potências económicas. Esta pode ser a grande oportunidade de o mostrar e assumir mais que nunca esse papel educador. E de colocar finalmente os poder dos valores e da ética por cima do poder do dinheiro.
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