Adolfo Luxúria Canibal disse que num dia de um concerto dos Mão Morta pegou numa faca e deu uma facada nele próprio. Justificou o tresloucado acto por o público estar numa tal tensão e frenesim que ele sentiu que tinha de fazer alguma coisa. Ao ver aquele gesto, o sangue a escorrer na perna do cantor, as pessoas acalmaram e o concerto prosseguiu na paz possível do que era um concerto dos Mão Morta. Ou seja, o sacrifício ajudou a acalmar a multidão enraivecida.
A tragédia do país apanhou as redes sociais que, tal como os eucaliptos, são de combustão fácil. De um momento para o outro exigem-se culpados. Alguns já chegaram a conclusões definitivas. Na guilhotina virtual, a cabeça da ministra da Administração Interna já está a ser exibida. Uma jornalista tem um momento muito infeliz e é colocada de imediato na pira da imolação. Os virtuosos e zelosos torcem o nariz porque um editor de uma publicação diz uns bitaites (como se não tivesse direito a dizê-los).
A opinião é livre mas, pelos vistos não é para todos, mas diz-se tudo e mais alguma coisa. Repetem-se discursos, mudam-se vírgulas e argumentos consoante os posicionamentos políticos.
Entretanto, o ordenamento do território, os interesses das empresas de celulose, os negócios do combate aos incêndios – sim, há quem lucre com a tragédia – a falta ou não de meios, a ausência de prevenção, tudo volta a ser debatido (mais uma vez, e é assim há anos e com diferentes governos). Neste domínio não há cor política, só a cor das cinzas.
Para o ano há mais, neste “Portugal, se fosses só três sílabas de plástico, que era mais barato!”