Ninguém diria que a descoberta e o uso de antibióticos, um dos maiores acontecimentos da primeira metade do século XX, basta pensar nos recuos e na contenção de doenças como a tuberculose, a sífilis e algumas pneumonias, se iria transformar numa questão altamente inquietante nos tempos que correm, isto depois de se terem poupados muitos milhões de vidas.
O problema de saúde pública requer uma explicação. Passou a ser banal recorrer-se à utilização de antibióticos para toda e qualquer situação, mesmo que não se trate de uma infeção ou, tratando-se de uma infeção, que esta não seja produzida por organismos sensíveis aos mesmos (bactérias, fungos ou protozoários). Ora, a maioria das infeções é provocada por vírus ou bactérias, mas o efeito do antibiótico só se verifica sobre bactérias. Gripes, constipações, sarampo, hepatite, varicela ou papeira, doenças provocadas por vírus, não são tratáveis com antibióticos.
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Assessor do Instituto do Consumidor e consultor do POSTAL
Ao mais pequeno sinal da probabilidade de infeção, e é essa uma das grandes inquietações dos pais com filhos doentes, pede-se ao médico ou mesmo ao farmacêutico que receite ou dispense antibiótico. Mas há outro problema que é quem precisa de tomar antibiótico fazer dele um uso indevido, não cumprindo os horários da toma ou interrompendo o tratamento porque julga que se sente melhor.
Esta toma abusiva ou indevida por antibióticos contribui para alargar a resistência aos mesmos e daí a Organização Mundial de Saúde apelar a todos os intervenientes que é imperativo inverter este problema de saúde pública que já está instalado, são avisos para as responsabilidades do prescritor de medicamentos, do farmacêutico e do doente.
Cabe ao médico avaliar convenientemente as queixas do doente a distinguir entre uma infeção bacteriana e uma infeção provocada por vírus, e quando prescreve deve manter o doente informado quanto à necessidade de uma perfeita adesão terapêutica; cabe ao farmacêutico recusar a dispensa de antibióticos sem receita ou indicação médica expressa, e quando o doente vem ao balcão da farmácia com receita verificar se está devidamente informado sobre o horário das tomas e a duração do tratamento, sensibilizando o doente para não interromper a terapêutica, mesmo que se sinta melhor; cabe ao doente só iniciar um tratamento com antibiótico após a decisão médica, se sofre de constipação e gripe a toma de antibióticos é completamente inútil.
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Vivemos hoje sob a ameaça de ficarmos sem defesas perante bactérias causadoras de infeções, anteriormente tratáveis pelos antibióticos disponíveis. As infeções bacterianas são mais difíceis de tratar e mais dispendiosas quando as bactérias são resistentes aos antibióticos – crescem os gastos com a saúde e aumentam desnecessariamente as taxas de mortalidade.
Têm os doentes também a responsabilidade de prevenir as infeções com a prática de uma boa higiene, o mesmo é dizer lavando as mãos com frequência com água e sabão e cozinhando bem os alimentos dentro das chamadas regras de segurança alimentar.
Todos devemos estar envolvidos na resistência aos antibióticos. Sobretudo na comunicação entre o pediatra e a mãe, nas farmácias, nos meios de comunicação social, temos de dizer frontal e insistentemente: a grande maioria das infeções comuns não é tratada por antibióticos.
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