A partir de dados disponibilizados pela Direção Geral da Educação, uma equipa de quatro alunos da pós-graduação em Entreprise Data Science and Analytics, da NOVA IMS, na qual me incluo, desenvolveu uma ferramenta que permite trabalhar os dados referentes aos rankings das escolas, num conjunto assinalável de variáveis.
Disponibilizamos hoje, aqui, a análise comparativa entre o ensino público e o ensino privado. A tendência do número de escolas públicas no Top 50 do ranking de escolas tem de fazer pensar. A projeção aponta que em 2022 não haja qualquer escola pública neste Top 50.
Gráfico realizado com base nas escolas com mais do que 60 exames/ano
Após 20 anos de rankings, a discussão continua escusadamente centrada em três grandes temas: as diferenças de performance entre a escola pública e privada, o aumento das desigualdades entre as duas e, a utilidade ou inutilidade da publicação dos rankings das escolas.
A discussão devia estar centrada na qualidade de ensino, nos professores e principalmente nos alunos que são o fim último do sistema de ensino. Tudo o resto é, ou devia ser, acessório, porque desvia o foco do essencial. O fato de um aluno ter estudado numa escola pública ou numa escola privada deveria ser irrelevante. Por exemplo, quando perguntamos a alguém onde estuda ou ensina, não costumamos obter como resposta o tipo de escola, mas sim, que estudou ou ensinou na escola x ou no colégio y, que por acaso são ou uma escola pública ou privada. O tipo de escola é, ou deveria ser, apenas um meio para chegar a um fim, que é garantir o melhor ensino possível aos nossos alunos. O tipo de escola também não tem utilidade para a entrada na faculdade. Não existem, e ainda bem, lugares reservados para alunos provenientes de escolas públicas nem privadas. O ditado popular que diz que os fins não justificam os meios, devia ser complementado, neste caso, com, os meios não se devem sobrepor aos fins. Mais importante do que saber se uma escola é pública ou privada seria conhecer a pedagogia, o método de ensino, os valores que a escola pretende transmitir, o propósito formativo, o quadro de professores, etc.
Ter como objetivo a diminuição das desigualdades, também não parece ser o melhor caminho para melhorar o ensino em Portugal, pois, esta diminuição deve ser uma consequência da melhoria total do sistema de ensino e não o seu objetivo. Deve-se sim, procurar ativamente a igualdade de oportunidades para todos. As abordagens podem parecer semelhantes mas são opostas: a diminuição das desigualdades costuma conduzir ao nivelamento pelo mínimo enquanto o fomentar da igualdade de oportunidades costuma potenciar o máximo de cada um.
A discussão sobre a bondade dos rankings das escolas também é redutora. Na realidade, o que analisamos são resultados de exames, que são usados para ordenar escolas, levando muitos a considerar que o lugar de cada escola no ranking reflete todo o seu valor, e o valor dos seus professores e alunos. Portanto, o modo de utilizar os dados é que pode ser valorizado como bom ou como mau. Os rankings dizem-nos algumas coisas, não nos dizem tudo. São muito incompletos, podem em muitos casos ser injustos, por não refletirem toda a realidade, mas dão-nos informações importantes. Podemos e devemos aprender com eles, aprender a usá-los e melhorá-los de ano para ano. Com eles podemos corrigir erros, antecipar tendências, melhorar estratégias, etc.
Como podemos dar um passo em frente e sair deste círculo vicioso.
Uma primeira grande diferença entre o ensino público e privado está na autonomia. O ensino privado escolhe alunos, método de ensino e principalmente, professores. Graças a isso, pode ter um corpo docente mais estável, que em muito deve contribuir para a sua melhor classificação nos rankings. Outra grande diferença é o facto de a escola privada ter de prestar permanentemente contas aos seus alunos e pais. Tem de os conquistar. Se não prestar um bom ensino, tem uma grande probabilidade de perder alunos ano a ano, começando pelos mais exigentes. Os professores das escolas privadas, têm mais incentivos para melhorar a sua formação e melhorar os seus métodos de ensino, de modo a corresponder ao que a escola e os alunos esperam de si, pois não progridem na carreira exclusivamente por antiguidade. As escolas privadas também têm de garantir uma gestão muito cuidada pois, se derem prejuízo, poderão ser obrigadas a fechar. É interessante notar como, no caso da universidade, a necessidade de atrair alunos e a relativa exigência na contratação e progressão dos professores leva as universidades públicas a terem, em geral, melhores resultados que as privadas.
Face ao exposto, uma solução, fácil de entender embora laboriosa de implementar, seria dotar cada uma das escolas com aquilo que lhes falta: às escolas públicas, dar-lhes a autonomia que lhes falta e às escolas privadas dar-lhes a possibilidade, que lhes falta, de serem escolhidas pelos diversos alunos independentemente das suas capacidades financeiras.
Crónica de opinião publicada pelo nosso parceiro Expresso