O sistema de ensino em Portugal precisa de ter à frente alguém com visão estratégica e com capacidade de decisão independentemente da estratégia partidária transitória.
As primeiras perguntas que o responsável político deve fazer são: que rumo deve seguir o país na cena internacional e o que devemos ensinar prioritariamente à juventude, compatibilizar e coordenar os currículos de todos os graus de ensino.
A seguir ao vinte e cinco de abril confundiram a igualdade de oportunidades com a igualdade de áreas de estudo, acabaram com o ensino técnico nas escolas comerciais e industriais, foi tudo estudar no liceu, como se fossemos todos iguais e precisássemos só de doutores, o resultado está à vista, não existem quadros intermédios qualificados, não existem canalizadores, eletricistas, serralheiros, mecânicos, contabilistas e outros mais. Tinha que ir toda a gente para a universidade para ter um canudo.
Nós temos inteligências diferentes, qualquer que seja o nível intelectual de cada um de nós, ter um bom eletricista é melhor do que ter um mau médico. As aptidões natas e vocações de cada pessoa foram escamoteadas. Nós nascemos diferentes e temos condições diferentes pelo que seguimos caminhos diferentes, há é que actuar nas condições sociais e de estudo de cada aluno dando-lhe as oportunidades de que necessita. O país precisa de ter um ensino técnico intermédio competente e eficaz.
Confundiram a aparência com a substância. O conceito de igualdade foi deturpado.
Creio que um aluno que nos primeiros anos não consiga aprender línguas não deve poder enveredar pelo estudo de línguas no secundário e universidade, só vai perder tempo e gastar recursos financeiros dos pais e do Estado, nunca será tradutor, isto não significa que não possa aprender alguma coisa de uma língua que lhe seja útil na vida.
Porque é que um aluno que não tem aproveitamento satisfatório a matemática há-de poder ir estudar uma área de engenharia? Penso que é preciso orientar os alunos ao longo do seu percurso escolar, isso não se consegue fazer só com um psicólogo em três ou quatro escolas ao mesmo tempo, têm que ser os professores da turma a analisar cada situação.
Ao longo de trinta anos de ensino, apercebi-me que os alunos são obrigados a estudar coisas que não interessam para nada e muito menos para desenvolver o raciocínio, mas se não souberem reprovam! Há assuntos aos quais os alunos deveriam dedicar mais tempo, mas não podem porque os currículos são extensos. É um anacronismo oficial.
Ministrei, durante alguns anos, a disciplina de Introdução ao Desenvolvimento Económico e Social, na qual abordávamos os blocos militares, os blocos económicos, o comércio internacional, o estudo da sociedade como um todo político, social e económico. Era uma disciplina que estudava o nosso tempo e que permitia aos alunos situarem-se na sociedade do seu tempo. Matérias que lhes despertava o interesse. Como isso não interessava ao sistema político a disciplina foi retirada, tudo o que possa “prejudicar” os interesses instalados é eliminado.
Em democracia a política deve ser ensinada nas escolas para termos cidadãos conscientes dos seus deveres e direitos, claro que isso não interessa ao sistema partidário, creio que é a principal causa de abstenção política e afastamento da sociedade em relação aos partidos políticos e às eleições.
Recordo-me que numa reunião de professores, a propósito dos cursos profissionais, eu perguntei “… porque é que um aluno deve estudar História se o que ele quer é ser mecânico?”. Claro que a pergunta foi mal recebida, eu entendi a reação.
Não me compete a mim, nem a qualquer outro cidadão, estar a delinear políticas educativas, mas compete a qualquer primeiro ministro escolher as pessoas certas para comandar os ministérios e não apenas para os gerir segundo os interesses partidários.
Quem governa deve ter uma visão estratégica de futuro para o país porque sem sabermos o que queremos para as gerações vindouras não conseguimos planear no presente.