Desde 1974 que de vez em quando há eleições, contudo ainda há muita gente que não percebe naquilo em que vota nem tão pouco a origem dos termos ‘direita’ e ‘esquerda’, a qual tentarei explicar mais à frente.
São muitos aqueles que têm a oportunidade de votar tal como têm a capacidade de serem treinadores de futebol em frente da televisão. Para eles não há diferença entre um partido político e um clube de futebol, é o seu mundo diminuto.
Existem, em todos os países, duas grandes famílias de partidos políticos, e dentro de cada um desses conjuntos de partidos existem pequenas/grandes diferenças de linhas políticas, de objectivos, de estratégias e de atitudes.
Os termos de ‘Esquerda’ e de ‘Direita’ surgiram com a revolução francesa, finais do século XVIII, de uma forma ‘acidental’ decorrente da organização dos trabalhos na nova Assembleia Nacional. Antes da revolução só tinham representantes na Assembleia, a aristrocracia, o clero, os grandes comerciantes e os grandes senhores feudais, após a revolução passou a haver também representantes do povo, dos camponeses, dos artesãos e dos pequenos comerciantes, deixou de haver privilégios para as classes sociais dominantes – os senhores feudais, aristrocracia e igreja – o povo passou a ter todos os direitos em igualdade de condições com os antigos senhores. Não havia lugares marcados nas reuniões parlamentares, pelo que cada um se sentava como calhava, a confusão era enorme, foi então decidido que os representantes dos camponeses, dos artesãos e dos pequenos comerciantes (jacobinos) se sentariam à esquerda da mesa da presidência e os representantes das classes abastadas (girondinos) se sentariam no lado direito. Daí a denominação de esquerda para os representantes das classes trabalhadoras e de direita para os representantes do poder económico e financeiro. Esta é uma forma muito simples de descrever esta questão específica sem entrar na descrição pormenorizada da Revolução Francesa.
Hoje os deputados representam os mesmos interesses, uns de esquerda outros de direita, por isso pode-se afirmar que há muita gente a votar nos interesses que não são os da sua classe social. Fico apreensivo quando vejo pessoas das classes sociais mais necessitadas a votarem nos partidos de direita que defendem tudo menos os interesses dos pobres, tal como quando vejo pessoas muito abastadas a defenderem partidos de esquerda. É estranho, mas acontece algo de semelhante quando milhares de pessoas ficam a pé toda a noite para saudarem a ‘sua’ equipa de futebol, sabendo que não ganham nada com isso, mas não participam numa manifestação política para defender os seus interesses sociais. Enfim, anacronismos.
A única explicação para este facto é a ignorância do Povo mantida em benefício de interesses pouco claros. É pena que ao fim de quase meio século de democracia ainda nenhum governo tenha investido a sério na educação e esclarecimento político da população, temos uma democracia formal, mas alheada da realidade. No antigo regime salazarista, ditatorial e repressivo, havia no liceu a célebre disciplina OPAN – Organização Política e Administrativa da Nação – a qual pretendia moldar as mentalidades à medida do regime, mas que tinha um efeito contrário ao pretendido, hoje em democracia não há ensino de política na escola, creio que os partidos políticos têm medo que a generalidade das pessoas percebam alguma coisa de política.
Basta de slogans partidários populistas com vista às eleições.