Uma das medidas finalmente permitidas no processo de desconfinamento progressivo foi a possibilidade de visitar museus.
De uma forma geral, a arte pretende estimular emoções, em particular emoções positivas, pelo que os museus podem contribuir para a felicidade das pessoas, pelo menos enquanto os visitam.
Mas, para além desta situação geral relativa ao impacto das artes visuais nas emoções humanas, há cerca de um ano foi criado um espaço único no mundo, o “Museu da Felicidade” (“The Happiness Museum”), que pretende explicitamente contribuir para tornar as pessoas mais felizes.
Este Museu foi inaugurado em julho de 2020 em Copenhaga, na Dinamarca, um dos países com um índice de felicidade mais elevado do mundo, de acordo com o Relatório sobre a Felicidade Mundial que a ONU publica todos os anos desde 2012.
Este Museu foi criado pelo “Happiness Research Institute” (“Instituto de Investigação da Felicidade”), uma organização que estuda o bem-estar, a felicidade e a qualidade de vida. Este Instituto está particularmente focado em estudar porquê que algumas sociedades são mais felizes do que outras.
Meik Wiking, fundador do museu, que também dirige este Instituto, afirma que “no Museu da Felicidade as pessoas têm direito a uma visita guiada que lhes permite conhecer este estado a que todas as pessoas aspiram através de diferentes perspetivas”.
O Museu mostra aos visitantes a história, a geografia, a política e a ciência da felicidade em oito salas, cada uma proporcionando experiências diferentes, que vão desde simples informações escritas até vídeos, imagens e modelos 3D de um cérebro, por exemplo. Podem ser feitas “terapias de luz” e “experiências de pensamento”. As exposições pretendem ainda levar a refletir sobre questões éticas e emocionais. Os visitantes do museu podem ver exposições e ter experiências interativas que pretendem mostrar como os diferentes países percebem a felicidade.
Além de analisar detalhes históricos, estudos, apontamentos sobre a felicidade individual e no mundo, brincadeiras, diversões e materiais audiovisuais, o Museu também se abre à participação dos visitantes, que podem deixar nas paredes as suas ideias sobre a felicidade. Na coleção há ainda objetos doados por pessoas de todo o mundo, que lhes lembram momentos felizes das suas vidas.
“É um pequeno museu sobre as grandes coisas da vida (…) A nossa esperança é que os visitantes saiam um pouco mais sábios, um pouco mais felizes e um pouco mais motivados para tornarem o mundo um lugar melhor”, disse Wiking na apresentação do projeto. Wiking lançou também o livro “Hygge”, que significa um estilo de vida em busca do bem-estar, do conforto no dia-a-dia. A este conceito, Wiking juntou outro, a que dedicou outro livro, o “Lykke”, que significa precisamente felicidade. Daí o nome do museu na língua original, “Lykkemuseet”.
Sob o lema “Diz sim à felicidade”, e numa perspetiva de permitir momentos de felicidade aos visitantes, havia sido criado o “The Sweet Art Museum”, em Lisboa, composto por várias salas temáticas com diferentes experiências interativas e digitais, decoradas com objetos de grande impacto visual, onde o universo “dream, sweet and colourful” é explorado. Uma das grandes atrações deste museu era a “Splash Mallow Pool”, um convite aos visitantes a mergulharem numa piscina gigante a transbordar de “marshmallows”.
Já num artigo anterior, “Podem as artes visuais expressar felicidade?”, destacámos a exposição “The Happy Show”, de Stefan Sagmeister, que percorreu vários países, tendo também podido ser visitada no MAAT, em Lisboa. Através de vídeos, infografias, esculturas e instalações interativas, bem como de humor e interação, esta exposição convidava os participantes a pensarem sobre a felicidade de uma forma geral e sobre a sua própria felicidade em particular. Apelava a uma atitude mais participativa na busca dessa felicidade, afirmando inclusivamente que esta se treina, tal como treinamos o nosso corpo.
É óbvio que os visitantes não se tornarão mais felizes por visitarem o “Museu da Felicidade”, mas pelo menos serão estimulados a construir um percurso mais orientado para o bem-estar. Esta é uma mensagem tanto mais importante numa época de pandemia, em que o número de casos de depressão tem aumentado em todo o mundo.
E, numa época de verão, em que muitas pessoas se encontram em férias, embora seja natural procurar a frescura da água do mar nas praias, talvez possa ser interessante aproveitar para visitar alguns museus, que em geral também são locais bastante frescos.
Cada um pode construir o seu percurso no sentido do bem-estar individual e coletivo e a arte pode ajudar nesse sentido…