Há vinte e cinco anos que defendo que o regulamento da modalidade de Futebol deveria ser revisto e alterado por apresentar incongruências de fundo incompreensíveis e difíceis de entender.
Observo todos os dias inúmeras pessoas a falar de Futebol, mas não oiço nenhuma voz que defenda que o jogo tem carências estruturais ao nível das suas regras.
No meu entender antes da instituição do sistema do vídeo árbitro, que deve ter custos gigantescos a nível monetário, deveria ter sido feita uma profunda reflexão sobre o jogo e o seu regulamento por parte dos agentes de Futebol e de outras áreas da sociedade.
Essa reflexão deveria incidir sobre quais as regras do jogo passíveis de possíveis alterações de forma a enriquecer o jogo e torná-lo mais claro, justo e verdadeiro.
Poderia ter sido criada uma comissão de pessoas especializadas para levar a cabo essa tarefa.
Depois de revisto o regulamento, deveria surgir uma fase de experimentação em que iriam ser realizados jogos de ensaio para análise e verificação das alterações produzidas no jogo.
Depois surgiria uma nova fase em que se iria debater a eficácia dessas medidas e só depois se instituía as alterações ao jogo, caso existisse uma plena concordância.
A primeira regra que deveria ser analisada seria a do fora de jogo. Ou seja, fazer jogos de ensaio sem esta regra para se perceber como ficaria o jogo em termos estruturais e táticos, se haveria mais espaço para jogar, se o jogo ficaria mais atrativo e se existiriam mais situações de finalização.
Caso fosse concluído que o jogo ficava mais enriquecido com esta alteração já não seria necessário o sistema do vídeo árbitro para analisar esta situação e já não teríamos de assistir às famigeradas linhas de fora de jogo que detetam ao centímetro o que é obviamente ridículo e faz com que muitas vezes as pessoas já nem festejem os golos porque estão sempre à espera que alguma infração seja marcada, mas acima de tudo traz mais verdade ao jogo até porque é humanamente impossível a verificação do fora de jogo por parte dos árbitros auxiliares nos lances duvidosos, devido à rapidez das ações, o que faz com que eles não estejam lá a fazer nada.
A segunda regra que deveria ser revista tem a ver com o número de árbitros em campo. Ou seja, não faz sentido que nas modalidades de Futsal, Basquetebol ou Andebol tenham dois árbitros de campo, cada um a acompanhar o ataque de cada equipa, sendo o campo muito mais pequeno e no Futebol haja só um árbitro a acompanhar o ataque das duas equipas, o que faz com que tenha que correr muitas vezes mais que os próprios jogadores durante o jogo, não está tanto em cima dos lances como deveria e não tem tanta lucidez de raciocínio perante tanta decisão que tem que tomar. A alteração passaria obviamente por colocar dois árbitros de campo, cada um no seu meio campo a acompanhar o ataque de cada uma das equipas.
A terceira regra está relacionada com o tempo de jogo, ou seja, este deveria ser cronometrado como as modalidades de pavilhão, passando a ter 35 minutos de tempo efetivo. Dessa forma, terminaria de vez o anti jogo, o tempo perdido, as simulações dos jogadores para “queimar” tempo, que são abomináveis e retiraria pressão ao árbitro que tem que decidir quantos minutos vai dar de desconto, que é sempre alvo de contestação. Esta medida traria vantagens a todos os níveis.
A quarta possível alteração tem a ver com as entradas em “carrinho”. Não consigo entender como é que as instituições que regulamentam o Futebol ainda não aboliram esta situação do jogo, pior ainda, como é que ninguém fala em abolir esta situação, sejam treinadores, jogadores, dirigentes, árbitros, comentadores e sindicato dos jogadores, depois de centenas de jogadores ao longo destes anos terem sofrido lesões gravíssimas que advém destas entradas e inclusivamente terem que terminar as carreiras de jogadores.
Esta situação não favorece ninguém durante o jogo, os jogadores muitas vezes sofrem lesões, os treinadores vêm as suas estratégias ruir porque muitas vezes os jogadores levam cartões amarelos ou vermelhos, os clubes ficam altamente lesados porque está é a ação que provoca mais lesões nos jogadores, para os árbitros é extremamente difícil de ver se o jogador toca primeiro na bola ou no outro jogador, se bem que deveria ser sempre falta porque o jogador acaba por ser “varrido” e para os espetadores é prejudicial porque o jogo fica mais feio, aliás a maior parte das situações de violência que ocorrem num jogo de Futebol, desde o distrital à 1º liga, advém destas entradas porque os jogadores sentem a sua integridade física posta em causa e reagem muitas vezes instintivamente na sua própria defesa ou de algum companheiro. Há uns anos atrás um treinador sofreu uma lesão num treino porque um jogador fez uma entrada em “carrinho” sobre outro jogador e acidentalmente foi chocar com o treinador provocando-lhe uma rotura dos ligamentos no joelho. Este exemplo diz tudo sobre o ridículo desta ação que no meu entender apenas traz malefícios ao jogo.
A quinta alteração ao jogo está relacionada com os lançamentos de linha lateral. Estes deveriam ser obviamente efetuados com o pé, porque não faz sentido não se poder jogar com as mãos e depois fazer-se o lançamento com as mãos. Seria a mesma coisa que no Basquetebol ou no Andebol fazer-se o lançamento de linha lateral com os pés. Com a agravante de nos escalões de formação os árbitros assinalarem lançamentos laterais mal efetuados devido ao movimento não ter sido completo.
No Futsal é efetuado com o pé, no Futebol também deveria ser, só traria vantagens.
A sexta alteração está ligada aos livres e à formação das barreiras, ou seja, não deveria ser permitido que os jogadores da equipa que beneficia do livre se intrometam na barreira porque isso provoca várias situações anómalas prejudiciais ao jogo, nomeadamente faltas que são muito difíceis de serem descortinadas pelos árbitros porque os jogadores muitas vezes empurram-se, tentando tapar a visão dos guarda-redes o que não é correto. Esta alteração facilitaria o trabalho dos árbitros e traria mais correção e beleza ao jogo.
Estas são as seis situações que poderiam sofrer alterações no regulamento da modalidade de Futebol, para que pudesse trazer ao jogo mais verdade, justiça, beleza e acima de tudo mais espetadores interessados em assistir a um grande espetáculo desportivo.
Esta reflexão deveria ter sido feita antes da instituição do sistema do vídeo árbitro, mas creio que ainda vai a tempo de ser feita, estejam as pessoas com cargos importantes neste país atentas aos fenómenos sociais e desportivos.
O vídeo árbitro deveria ser utilizado apenas nalgumas situações, ou seja, se a bola ultrapassa na sua totalidade a linha de golo e nalgumas situações de falta que o árbitro em campo não consegue descortinar por alguma razão, ou pela rapidez do lance, ou pelo seu ângulo reduzido de visão do lance ou simplesmente pela dificuldade da interpretação do lance.
O castigo que deveriam ter todas as pessoas que protestam veementemente contra os árbitros, deveria ser eles próprios irem arbitrar um jogo para perceberem de um vez por todas a enormíssima dificuldade que é ajuizar todos os lances de um jogo. De certeza que mudavam radicalmente a sua opinião sobre os árbitros.
Todos os dias assistimos nos mais variados órgãos de comunicação a informações e debates sobre Futebol, mas deveríamos assistir a uma verdadeira reflexão sobre o regulamento do jogo de Futebol, para que sejam produzidas alterações de fundo com o objetivo de tornar o jogo mais atrativo para o espetador e que tenha um melhor enquadramento desportivo e social.