Os professores não nascem espontaneamente na natureza!
Desde 2005 que os professores têm sido ultrajados, vilipendiados, insultados, desrespeitados, tratados como oportunistas e incompetentes, mal pagos e mal avaliados na sua função social e profissional. Chegou-se ao ponto de os pais irem bater nos professores dentro das escolas. Como se isso não bastasse congelaram-lhes a carreira. Cheguei a ouvir um esperto, de má memória, no governo, dizer na televisão que a economia estava “mal porque os professores não ensinam na escola”. O mais triste é que um conhecido comentador televisivo naquela época corroborava todas aquelas posições oficiais. Com tal tratamento ao longo de vinte anos os jovens estudantes, que não são atrasados mentais, deixaram de estar dispostos a prosseguir os estudos para tal profissão. Os professores não são ervas daninhas!
Em termos materiais o governo de então foi copiar um modelo de avaliação profissional dos professores que era utilizado no Chile, o qual já tinha dado provas que era burocrático e ineficaz para avaliar os professores, onde os resultados concretos do seu trabalho ficam de fora. Não copiaram o modelo dos países mais desenvolvidos. O objectivo foi dificultar a progressão na carreira para pagar menos agora e mais tarde nas reformas. A carreira docente em Portugal tem trinta e nove anos, a grande maioria dos professores nunca chega ao topo da carreira enquanto que nos países desenvolvidos a carreira docente tem entre os quinze e os vinte e cinco anos. Hoje não há professores suficientes, por isso o governo quer ir contratar professores aos países latino americanos, sempre paga menos e os alunos aprendem menos para serem pouco interventivos na sociedade, sendo esse o objectivo principal da classe política para os mal pensadores se manterem no poder sem serem politicamente incomodados.
Os professores estão mal pagos e desmotivados na profissão, nenhum profissional em nenhuma profissão consegue ser muito eficaz no seu desempenho profissional nestas condições.
Alguns sindicatos também tiveram culpas porque não mobilizaram a classe docente porque seguiram as orientações partidárias visando apenas os seus interesses eleitorais.
Portugal é o país da Europa com a classe docente mais envelhecida, a breve prazo o ritmo de aposentações vai aumentar, será então a oportunidade de colocar ao serviço os professores vindos dos países sul-americanos, é proveitoso porque fica mais dinheiro disponível para as obras megalómanas, negociatas esquisitas e ordenados dos políticos muito acima da média nacional.
Como poderá o país evoluir, como todos desejamos, tratando o sistema de ensino tão mal? Um futuro melhor está num sistema de ensino onde todos os intervenientes se sintam bem a ensinar e a aprender. Creio que a Sociedade do futuro é o reflexo do sistema de ensino de hoje, tal como a má utilização do conceito de igualdade nas décadas de setenta e oitenta nos retirou o ensino técnico-profissional intermédio até ao décimo segundo ano. A inconcebível perseguição ao sistema de ensino vai retirar muita vitalidade à Sociedade no futuro.
O poder político, já que não consegue aprender nada com o passado, podia, pelo menos, olhar para as consequências deste tratamento desastroso do ensino que também aconteceu em Inglaterra, onde faltam professores e as escolas públicas são locais onde poucos gostam de estar. Também naquele país, os governos têm tentado contratar professores nos países latino-americanos e em África, alguns aceitaram as péssimas condições oferecidas porque é uma oportunidade de entrada na Europa.
A prioridade política vai para as estatísticas internacionais, não se olha a meios, para isso fazem-se exames apenas com cruzinhas e outros exames retiram-se do sistema de avaliação, o que é preciso é estar bem nas estatísticas sem interessar as condições do ensino, é uma tristeza. Cada ministro da educação tem tentado deixar a sua marca no ensino, infelizmente tem sido sempre negativa, nenhum fez uma reforma séria no sistema, apenas têm feito maus remendos pontuais.
Os professores são técnicos especializados, por isso devem ser bem remunerados e, acima de tudo, respeitados na escola e na sociedade porque são eles que formam os futuros cidadãos deste país.
Leia também: Os ex-combatentes da guerra do Ultramar | Por Daniel Graça