A economia mundial está a ser fustigada pela invasão da Ucrânia pela Rússia. Segundo a OCDE, (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), o crescimento económico estagnou em todo o mundo e os vários indicadores disponíveis apontam para um período prolongado de crescimento moderado e mesmo negativo em alguns casos.
A guerra contribuiu, decisivamente, para o aumento dos preços da energia e dos produtos alimentares, agravando as pressões inflacionistas que, reconheça-se, já eram visíveis antes do conflito.
A inflação alargou-se a todas as economias mundiais, afectando negativamente o poder de compra das famílias, forçadas a reduzir consumos e despesas para enfrentar um repentino aumento do custo de vida. O reflexo nas viagens de lazer são já uma realidade que não vale a pena continuar a esconder, tanto mais que os preços do transporte aéreo, induzidos pelo aumento dos combustíveis, estão a subir exponencialmente.
Apesar das políticas monetárias poderem moderar a inflação em 2023, a verdade é que os preços da energia e o crescimento dos custos laborais não deixam antever a redução inflacionista nos tempos mais próximos.
“Os preços da energia e o crescimento dos custos laborais não deixam antever a redução inflacionista”
O aumento das taxas de juro é o antídoto apontado pelos Bancos Centrais para tentar suster a inflação. A OCDE, por outro lado, defende a criação de apoios fiscais para ajudar a esbater o impacto dos altos custos energéticos nas famílias e nas empresas.
A dinâmica económica caiu a pique, sobretudo na Europa e na Zona Euro, após uma recuperação acentuada e algo inesperada a seguir à crise pandémica provocada pelo Covid-19, gerando fundadas expectativas quanto a um rápido retorno à normalidade, após a paragem forçada do sector durante mais de dois anos.
Os impactos contínuos e sucessivos dos surtos de Covid-19, aliados aos efeitos da guerra, afectaram não só o crescimento das riquezas nacionais, como pressionaram a subida dos preços, designadamente da energia, combustíveis e produtos alimentares.
A produção baixou nas principais economias; o PIB (Produto Interno Bruto) estagnou, piorando as perspectivas mundiais relativamente a um hipotético crescimento económico sustentado; e a confiança dos consumidores encontra-se fortemente abalada.
Uma coisa é já certa: o aumento dos salários e o custo unitário do trabalho, não vão acompanhar o ritmo da inflação, pelo que os rendimentos reais disponíveis das famílias vão baixar significativamente, diminuindo substancialmente o seu poder de compra, e forçando a uma redução dos chamados gastos de lazer – viagens e férias no exterior e fora de casa, situação que já se faz sentir à escala mundial.
Para controlar a inflação, vamos continuar a assistir a uma progressiva subida das taxas de juro, enquanto os mercados bolsistas apresentam uma tendência de queda acentuada. A valorização do dólar intensificou o desvio de capitais da Europa, UE e muitas economias emergentes para os EUA.
Por outro lado, é também previsível um arrefecimento dos mercados imobiliários, confrontados com taxas de juro elevadas, o que vai contribuir para baixar os preços de venda no curto prazo, afectando os investimentos privados e, por essa via, a rendibilidade das empresas.
Embora, presentemente, o mercado de trabalho tenha níveis de desemprego historicamente baixos, a verdade é que o ritmo de crescimento do emprego vai desacelerar, tal como já se verifica em outros Países mais desenvolvidos.
A falta de mão de obra pode, no actual contexto, ser considerada meramente conjuntural e não estrutural, como era antecipado, anteriormente, pelos responsáveis empresariais, exigindo do governo alguma contenção no que se refere à introdução de novas políticas de imigração.
Antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, a inflação já estava acima das metas definidas pelos principais bancos centrais, quer pelo aumento dos custos energéticos, quer pela subida dos preços dos produtos alimentares.
Os especialistas defendem que um dos factos que mais contribui para reduzir o crescimento económico é a política monetária para superar as metas da inflação. Taxas de juro e inflação elevadas e crescimento económico zero ou mesmo negativo, constituem uma mistura explosiva de consequências económicas e sociais imprevisíveis.
Contudo, a crer nas previsões da OCDE, os principais mercados externos fornecedores de turistas do Algarve, como o Reino Unido e a Alemanha, por exemplo, registam quebras acentuadas de produção, sendo que a maior economia da União Europeia, a Alemanha, entrará mesmo em recessão no próximo ano, ou seja, crescimento negativo e, o Reino Unido, regista taxas de inflação nunca vistas e outros indicadores económicos negativos.
Assim sendo, os principais riscos para as projecções económicas estão do lado do passivo, uma vez que são muito sensíveis a uma série de premissas, incluindo eventuais ondas de infecções de Covid-19, cuja erradicação total não se encontra totalmente assegurada.
Acresce ainda que, caso os fornecimentos em matéria energética da parte de países terceiros à Europa não se concretizarem para substituir os cortes russos, ou se a procura destes produtos vier a aumentar, a situação tenderá a agravar-se ainda mais.
No actual contexto, a OCDE defende reformas eficazes e direccionadas para aumentar a produtividade, reduzir as desigualdades, fortalecer a resiliência e melhorar os padrões de vida das pessoas e das empresas.
O recurso à política monetária para controlar a inflação é, particularmente desafiante, atendendo ao leque de incertezas sobre as perspectivas, assim como os desequilíbrios provocados pelas taxas de juro na economia, o que exige uma monitorização cuidada e permanente, visando introduzir ajustes sempre que necessário.
O governo português, tradicionalmente conservador e lento na acção, chega tarde aos problemas e, por conseguinte, às soluções, deixando a economia real ao sabor das conjunturas internacionais.
Para além destas medidas, a OCDE defende ainda um limite máximo para os preços a pagar aos produtores de electricidade de baixo custo (renováveis e nuclear) e um eventual imposto adicional sobre os lucros inesperados das empresas fornecedoras de combustíveis fósseis durante a crise que considera ser temporária – Portugal, mais uma vez, aguarda para ver..
A OCDE recomenda ainda uma reavaliação da composição da dívida pública e da tributação fiscal dos países, de forma a preservar e melhorar o investimento em infraestruturas e equipamentos, propostas que o nosso governo teima em não aceitar.
Os governos devem continuar a apoiar as famílias e as empresas neste período de transição e enquanto persistirem os preços altos da energia e dos produtos alimentares, contribuindo, deste modo, segundo a OCDE, para amortecer a inflação.
Os custos humanitários continuam a agravar-se; os impactos da pandemia de Covid-19 ainda não foram debelados; a guerra reduziu o crescimento económico mais do que era previsto; a inflação intensificou-se e generalizou-se a todos os países e bens de consumo; e as perturbações inerentes aos riscos energéticos aumentaram consideravelmente, sobretudo nas economias mais frágeis, como é o nosso caso.
Os agentes do sector, mais do que anunciar o melhor ano turístico de sempre, têm de mostrar capacidade em formular e fundamentar propostas concretas junto do governo, destinadas a esbater os efeitos destes constrangimentos nas empresas, nomeadamente no que se refere ao aumento desmesurado dos custos de exploração, assim como o mais que previsível arrefecimento das procuras turísticas externas e internas.
É preciso ter bem presente que o segundo maior custo de exploração de uma unidade hoteleira é, a seguir os custos salariais, a energia – electricidade e gás.
* O autor não escreve segundo o acordo ortográfic