1 – A par de «especialistas» nas mais diversas áreas, hoje não faltarão no país «justiceiros», os que, por exemplo, antes de um José Sócrates ser julgado em local próprio, nos tribunais, já o têm como culpado de crimes praticados ou que tendo um Isaltino de Morais, por crimes praticados, sido julgado e condenado, apesar de haver cumprido a pena que por tal motivo lhe foi aplicada, assim pagando à sociedade o que esta lhe exigiu, entendem, contudo, que o mesmo, para todo o sempre, deveria perder direitos de cidadania, ser proscrito da política.
Os «justiceiros» que acham que nasceram para todo o sempre imaculados, esquecendo o que já um poeta José Gomes Ferreira um dia escreveu, que «em todos nós haverá uma fera adormecida» e que, quando menos se espera, ela poderá despertar ou, se se quiser e como diz a sabedoria popular, que, dada a natureza humana, «no melhor pano uma nódoa poderá cair»!

Jurista
Nada melhor para a implementação de uma qualquer política impopular, que ter-se um povo distraído com a festa duma competição futebolística qualquer!
2 – Sim, o futebol será um espetáculo bonito de se ver por fatores diversos, nomeadamente o de ser de natureza coletiva, assentando em toda uma interdependência entre os onze membros que constituem uma equipa, nada valendo a esta ter, por exemplo, um bom marcador se o guarda-redes for um «frangueiro» ou um médio não souber colocar, devidamente, a bola nos pés do avançado-centro. Daí, todo o entusiasmo que gerará por esse mundo fora, toda a festa em que se poderá ver envolvido.
O mal que dele poderá advir é transformar-se numa espécie, como diria um Karl Marx se hoje fosse vivo, de «ópio do povo», levando a que se saiba os nomes de todos os jogadores duma qualquer equipa e mais alguns, mas se desconheça o dum Ministro da Cultura ou da Economia, que se discuta no local de trabalho ou em casa, acaloradamente, o resultado deste ou aquele jogo e não se debata os baixos salários auferidos, a precariedade do emprego, a inflação, a subida das taxas de juro no crédito à habitação, etc. ou se encham estádios, mas não se participe, depois, numa manifestação por melhores condições de vida ou, ainda, se possa assistir a «overdoses» clubísticas geradoras de violência entre adeptos deste e daquele clube.
Isto, claro está, para já se não falar em nebulosos negócios, não raro, girando à volta dele.
Sim, o futebol será bonito, mas, acrescentaríamos nós, para consumir com conta, peso e medida, não deixando que nos cegue para todo um mundo que há para além dele, ainda que possa existir quem, porventura, deseje que tal não aconteça! Na verdade, nada melhor, por exemplo, para a implementação de uma qualquer política impopular, que ter-se um povo distraído com a festa duma competição futebolística qualquer!
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