O Chega ganhou as legislativas no Algarve, mas os algarvios não são do Chega, estão cansados de estar abandonados pelos sucessivos governos.
A constituição de 1933 acabou com a designação de “Portugal e os Algarves” (o extremo sul de Portugal e as possessões da costa africana). Acabaram com a aquela designação, mas o ostracismo continuou até agora.
Os algarvios cansaram-se, fizeram o seu voto de protesto, mas ainda não vi ninguém a interpretar o voto algarvio naquele partido, ou não perceberam ou não interessa falar nisso. De facto, o Algarve só entra no vocabulário político pelas férias de verão porque quanto a infraestruturas os grandes investimentos nem vê-los. A Via do Infante existe porque foi o algarvio Cavaco Silva que a mandou construir porque se não tivesse feito aquele investimento ainda hoje não existiria. Existe muito investimento na área do turismo, mas é investimento privado em projectos turísticos e alguns investimentos das autarquias.
Para alguns o Algarve é Albufeira, Quarteira e Portimão, o resto é paisagem. A A2 foi feita directa para Albufeira, o IP2 foi prometido há várias legislaturas, mas até hoje continua com constrangimentos, a via férrea da região mais turística do país só agora está a ser electrificada, mas nada de via dupla, leva-se mais tempo ir de Vila Real de Santo António a Lagos do que de Faro a Lisboa ou de Lisboa ao Porto, a serra algarvia continua a estar ao abandono, o exemplo disso é a desertificação de Alcoutim, a estrada 125 de Faro a VRSA continua sem requalificação. Para quando o transvase de água do Norte para o sul e do Alqueva para Odeleite? São muitos milhares de milhões de rendimento e milhares de postos de trabalho que estão em causa por falta de água. A serra algarvia está desertificada, mas não é feita a reflorestação com árvores adaptadas ao clima como sejam alfarrobeiras, figueiras e amendoeiras. O que seria feito da saúde dos algarvios se não existissem os hospitais e clínicas privadas? Os deputados eleitos pelo Algarve, de todos os partidos, ‘agasalham-se’ em Lisboa e vêm cá de férias.
O importante para o Poder Central é o TGV lisboa/Porto/Vigo já são três linhas férreas paralelas para o Porto, mas o interior e o Algarve servem apenas para pagar os impostos para executar essas obras, caramba os algarvios chatearam-se!
A única linha de alta velocidade verdadeiramente rentável seria a linha de Madrid/Sevilha/Faro/Lisboa, porque podíamos beneficiar com o turismo da Andaluzia, mas ninguém quer ver isso.
O Algarve é a região de Portugal que mais rendimento líquido capta para o País, não consome matérias primas, vende sol, praias, peixe, carne, legumes e frutas algarvias. O Algarve vende Bem-Estar sem necessidade de comprar matérias primas.
O Algarve não é de extrema direita! E se esta vitória for um aviso?
Leia também: A inexistente formação política dos portugueses | Por Daniel Graça