Um Longo Caminho para a Água, de Linda Sue Park, publicado pela Editorial Presença, com tradução de Isabel Nunes e Helena Sobral, é um pequeno livro, para todas as idades, que se lê em poucas horas. Bestseller mundial há anos no top do New York Times e com mais de 3 milhões de exemplares vendidos, não será surpreendente que esta narrativa seja adaptada a filme ou série.
No Sudão, Nya, uma rapariga de onze anos, caminha todos os dias várias horas para ir buscar água numa vasilha de plástico para a família; fá-lo durante meses seguidos, até que regresse a época das chuvas. Certo dia chegam visitantes, que com uma girafa de ferro começam a perfurar o solo.
Salva, um rapaz da mesma idade, está na escola quando começam os sons de um tiroteio e vê-se obrigado a fugir, sendo separado da família. Torna-se um dos Meninos Perdidos do seu país, o Sudão, e percorre o continente africano, a pé, ao lado de outros refugiados que não perdem a esperança de reencontrar as suas famílias e de encontrar um lugar seguro, ou mesmo voltar às suas aldeias.
As duas histórias, contadas em paralelo (e com fonte de letra distinta, demarcando assim formalmente as narrativas), entre 2008 e 1985, respectivamente, acabam por se unir no fim, de forma surpreendente – ou talvez não tanto, dependendo da capacidade de um leitor mais atento. A água, um bem tão quotidiano quanto precioso, surge aqui como sinónimo de vida – quer na história de Nya, quer na de Salva, que se vê obrigado a atravessar o deserto. Paradoxalmente, a água é também uma das principais causas de morte, quando é bebida sem ser tratada.
A história de Salva é a que ganha maior destaque no livro, e a sucessão de azares, de situações-limite por que passa, é de tal ordem, que chega a parecer forçado. Mas a verdade é que este livro se baseia numa história real. A nota da autora, e do próprio Salva, conta-nos como a narrativa é suportada por uma série de leituras sobre a situação do país e de longas entrevistas com o verdadeiro Salva.
Numa prosa escorreita e acessível, é uma leitura que se apresenta especialmente destinada aos leitores juvenis, entre os 10 e os 14 anos, mas será certamente prazerosa para qualquer idade. É sobretudo um relato tocante que permite colocarmo-nos na pele dos milhões de refugiados do Sudão e de muitos outros países.
Linda Sue Park é autora de vários livros para jovens leitores. É fundadora e curadora da Allida Books, uma chancela da HarperCollins, e do site KiBooka, uma iniciativa que visa impulsionar as vozes literárias da diáspora coreana.