Doutorado em Literatura na UAlg
e Investigador do Centro de Investigação
em Artes e Comunicação (CIAC)
Matilde, quando se perde alguém, com texto e ilustração de Mary Katherine Martins e Silva, publicado pela Fábula, chegou às livrarias em fevereiro. A coleção portuguesa MATILDE, para crianças dos 2 aos 6 anos, é dedicada aos desafios e às aprendizagens do quotidiano dos mais pequenos, abordando temas basilares ao desenvolvimento infantil. Ao longo dos vários volumes desta colecção, os pequenos leitores podem acompanhar, pelas histórias centradas em Matilde, a evolução natural das crianças até à entrada no ensino básico.
Matilde, quando se perde alguém, como o título deixa claro, aborda um tema delicado e ainda muito pouco abordado.
Quando regressa das férias ao jardim de infância, a Matilde recebe uma novidade: a sala dela vai ter uma menina nova, a Elsa. A curiosidade dá rapidamente lugar à amizade. A Elsa adora desenhar e explica à Matilde que quando chegar a casa vai oferecer os desenhos à mãe. Mas dias depois conta à Matilde que a sua mãe já morreu …
Este livro alia uma história complexa, contada de forma simples e linear, numa linguagem descomplicada, com desenhos enternecedores, claramente ancorados no nosso quotidiano e realidade. É curioso notar como os adultos não aparecem completamente representados, como se a história se centrasse sobretudo nas crianças. No final, inclui-se um esclarecedor guia de leitura para pais e educadores, que contém informações pertinentes e práticas acerca de como ajudar uma criança a lidar com a morte e a fazer o luto.
Recentemente, confrontados com uma perda, surgiu justamente a questão de qual seria a forma certa de abordar o assunto com uma criança de 5 anos e contar-lhe que o avô morreu. Não fantasiar a realidade ou mentir à criança é essencial, pois a incoerência só gera confusão. Depois é essencial escutar as crianças e responder de forma verdadeira às suas questões. Muitas vezes essas questões manifestam medos ou inseguranças, às quais é preciso responder tranquilamente, em vez de descartar as suas dúvidas. Por exemplo, transpor a noção da morte de outra pessoa para a súbita e avassaladora compreensão de que os próprios pais um dia podem morrer.
Mary Katherine Martins e Silva sempre gostou de desenhar e pintar histórias. A Matilde é uma das suas personagens preferidas. É educadora há mais de 20, diretora pedagógica, e está a concluir um doutoramento em Educação Artística.