MaddAddam, considerado um dos melhores trabalhos de Margaret Atwood, autora canadiana de renome cuja obra tem sido publicada pela Bertrand Editora, representa o último volume da trilogia distópica, iniciada com Órix e Crex, seguida de O Ano do Dilúvio. Este tríptico será adaptado para série televisiva pela mesma produtora que nos presenteou com a adaptação de A História de Uma Serva.
Apesar de no corpo do texto podermos ler sobre os MarAdões, o título português segue o original MaddAddam, muito certamente devido à graça de se tratar de um palíndromo. Quem sabe se este título reversível não remete inclusive para se ler este terceiro volume como aquilo que é, o complemento dos outros dois. Ainda que no início haja uma síntese em cerca de 4 páginas dos volumes anteriores, este livro é apenas parte de um universo desenhado, formando todo um painel – note-se aliás que a capa de O Ano do Dilúvio era um pormenor do quadro de Hieronymus Bosch, O Jardim das Delícias Terrenas.
A ação é retomada imediatamente no ponto em que terminara O Ano do Dilúvio e centra-se novamente na personagem de Toby, uma mulher invulgar que se ajustou aos novos tempos. Este final da trilogia interliga mais estreitamente os dois volumes anteriores, ao mesmo tempo que aprofunda o passado de Zeb, o companheiro de Toby, confirmando Margaret Atwood como uma exímia contadora de histórias fascinantes, detentora de uma imaginação prodigiosa, ao mesmo tempo que desenha mundos possíveis que, na verdade, estão bastante próximo da realidade.
A autora escreve-nos numa nota final: «Embora esta seja uma obra de ficção, não inclui tecnologias ou seres biológicos que não existam já, não estejam em elaboração ou que não sejam possíveis em teoria.» Igualmente digna de nota é a forma como Atwood entrelaça a sátira e o humor com a previsão desse mundo assustadoramente próximo, cujo desfecho correu mal, com humanos e animais praticamente exterminados depois de uma pandemia criada em laboratório.
Toby, Jimmy, Zeb são alguns dos sobreviventes da espécie humana e, para o melhor e para o pior, os Adão e Eva de um temível mundo novo. Toby, aliás, passa a ter a seu cargo os Filhos de Crex, uma espécie de humanoides, fruto de engenharia biológica, criados dentro de um Ovo; são esses seres gentis, capazes de comunicar com animais (igualmente híbridos laboratoriais) e que encaram o canto como solução para quase tudo, a nova espécie que herdará o novo planeta. Da mesma forma que no segundo livro, Toby escrevia um diário, como forma de manter a sanidade e a ordem dos dias, é agora ela quem explica aos Filhos de Crex a sua origem e, inadvertidamente, os prepara para passarem eles mesmos a registar a sua própria história e o alvorecer de uma nova Humanidade.