Lá em Baixo no Vale é o novo livro de Paolo Cognetti, autor italiano que sigo atentamente desde o primeiro livro, publicado cá pela Dom Quixote, com tradução de J. Teixeira de Aguilar.
Tal como acontece nos três anteriores romances do autor, também aqui a história decorre no seu cenário preferido: o campo e a vida na montanha.
Um autor que escreve romances que roçam o ensaio e a memória.

Doutorado em Literatura na UAlg
e Investigador do Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC)
Um livro que contrapõe a vida rural à urbana e que explora a natureza de dois irmãos, dois tipos humanos, portanto, bastante diferentes entre si
Este novo livro inicia de forma enigmática, pois no primeiro capítulo a narrativa é focalizada a partir da perspectiva de uma cadela vadia, que segue um cão sanguinário que degola outros cães à dentada…
Segue-se, em resumo, a história de um pai que em tempos plantou duas árvores defronte da casa, uma para cada filho. A primeira, um larício, é Luigi, que em trinte e sete anos nunca saiu do vale. A outra árvore é um abeto: Alfredo é o filho mais novo, sombrio, irrequieto e brigão.
A partir daí iremos ficar a conhecer a história destes dois irmãos, um guarda-florestal, e um ex-presidiário. Um livro que contrapõe a vida rural à urbana e que explora a natureza de dois irmãos, dois tipos humanos, portanto, bastante diferentes entre si, ao mesmo tempo que lança, subtilmente, uma reflexão sobre a natureza do mal ou, melhor dizendo, a sua possível origem: «desde a noite dos tempos que os homens cortam árvores, matam os animais e rebentam a cabeça uns aos outros. Se há mal na terra, é coisa nossa.” (p. 123)

Paolo Cognetti (Milão, 1978) é um dos escritores italianos mais apreciados pela crítica e amado pelos leitores.
Há anos que se divide entre a cidade e uma casa a dois mil metros de altitude.
Estreou-se com o volume de contos Manuale per ragazze di successo (2004), a que se seguiu Una cosa piccola che sta per esplodere (2007) e o livro de viagem New York è una finestra senza tende (2010).
Em 2012, publicou o seu primeiro romance, Sofia si veste sempre di nero, finalista do Prémio Strega, e, no ano seguinte, O Rapaz Selvagem, o relato romanceado da sua vida na montanha.
As Oito Montanhas (2016), a sua obra de estreia em Portugal, foi traduzida em mais de quarenta países e recebeu o Premio Strega, o Premio Strega Giovani, o Prix Médicis Étranger, o Premio Leggimontagna, o Premio ITAS Libro di Montagna, o Premio Viadana e o English Pen Translates Award; a sua adaptação cinematográfica, realizada por Felix Van Groeningen e Charlotte Vandermeersch, ganhou o Prémio do Júri do 75.º Festival de Cannes e quatro David di Donatello, incluindo o de Melhor Filme.
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