Na última semana de Janeiro deste novo ano participei num Encontro, através da plataforma Zoom, na área do empreendedorismo em tempos de pandemia.
Houve um momento especialmente dinâmico em que os 298 participantes dançaram, cada qual em sua casa, uma música bastante inspiradora e cuja coreografia é fácil e intuitiva. Trata-se da canção “Jerusalema”.
A música consegue transformar ambientes e pensamentos e há músicas que são verdadeiramente poderosas.
Gosto de dançar e certamente cada participante, tal como eu, teve a sensação de ter a casa cheia de gente a dançar uma música tão empolgante.
“Jerusalema” tornou-se “viral” e diria mesmo que é o sucesso musical que marca a pandemia.
No Youtube é possível ver vídeos de pessoas de todo o mundo a dançar esta música, nomeadamente grupos de companhias aéreas, de funcionários de hospitais, de religiosas nos conventos, de estudantes e crianças. Todos com a sua alegria e coreografia conseguiram pôr o mundo a dançar.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=mFLk6Qfhimo com letra legendada em português.
O vídeo clip foi lançado a 21/12/2019 e a letra parece uma oração, algo de profético, a busca da Nova Jerusalém, entendida em sentido bíblico, como a cidade celestial que a maior parte de nós espera alcançar na procura comum e fraterna de comunhão com Deus.
Jerusalém é a minha casa / Salve-me / Caminhe comigo / Não me deixe aqui / O meu lugar não é aqui / O meu reino não está aqui / Salve-me / Venha comigo / Salve-me
A canção é da autoria do DJ e produtor sul-africano Master KG e da sua conterrânea Nomcebo Zikobe, que tem uma voz fantástica. Li que foi recolhida junto de uma tribo africana (os Venda) e é cantada em língua venda, uma das 11 línguas oficiais da Africa do Sul.
Trata-se de uma tribo de ascendência Judaica, são monoteístas, não comem carne de porco e são circuncidados.
Este “Jerusalém, não me deixe aqui…” pode ser um apelo ao regresso às suas origens, ao reencontro com o sagrado.
Ao tornar-se a música mais tocada em 2020 e estando em quase todos os tops mundiais parece ter ficado no ouvido. E, possivelmente, a mensagem de que a pandemia veio preparar os caminhos para a Nova Jerusalém pode dar uma reflexão interessante.
Master KG, é o nome artístico de Kgaogelo Moagi, que tem 24 anos e se tornou conhecido em 2018, quando recebeu o prémio AFRIMMA de melhor artista na categoria African Electro com o álbum “Skeleton Move”.
O ritmo africano da música tem contagiado o planeta. Em Fevereiro de 2020 os angolanos do grupo “Fenómenos do Semba”, para assinalar o 5° aniversário da banda, dançaram na rua com pratos de comida na mão, e aquela coreografia (baseada numa dança habitual nas cerimónias de casamento) passou a ser imitada e contribuiu para a música ainda ser mais conhecida em todo o mundo.
Adilson Maíza, coreógrado e bailarino do grupo angolano “Fenómenos do Semba”, referiu à imprensa que fizeram o “vídeo com a coreografia dançando e comendo na rua como uma brincadeira, nunca pensando que o sucesso se tornaria viral” e acrescenta “queríamos mostrar que podemos ser felizes mesmo com o pouco que a vida nos dá, apesar das dificuldades do quotidiano, o importante é ter saúde, ser feliz, mesmo com pouco para comer e pouca água para beber”.
Graças às redes sociais e ao hashtag #JerusalemaDanceChallenge a “música com mais de 158 milhões de visualizações, faz dançar o planeta inteiro”.
É certo que os angolanos não esperavam este sucesso planetário, mas seria bom para o grupo que Master KG lhes atribuísse uma quota-parte do crédito dos direitos de autor que auferiu com “Jerusalema”. Uma vez que se tornou “viral” a partir de 2020 com o vídeo clip do grupo “Fenómenos do Semba”.
A música é inspiração e pode ser transformação e por vezes ainda funciona como um “anestésico”, quase como um factor de transe e de fuga mundis, mas acima de tudo a música é uma energia de união.
Que apenas sejamos contagiados pela música “viral” e que estes tempos que vivemos nos tornem espiritualmente mais fortes para enfrentar os desafios da pandemia.
* A autora não escreve segundo o acordo ortográfico