Nos últimos meses, tenho participado em várias conversas sobre o impacto da Inteligência Artificial na educação, em particular do ChatGPT. Algumas das observações mais frequentes que escuto são: “O ChatGPT é como os carros que estacionam sozinhos: favorece a desaprendizagem”; “os alunos deixam de pensar porque a máquina pensa por eles”; ou ainda “a IA vai acabar por substituir os professores”.
As frases são provocadoras e levantam uma questão pertinente: estaremos a caminhar para uma educação onde os alunos delegam completamente o pensamento crítico em ferramentas tecnológicas? Ou estaremos, pelo contrário, a perder uma oportunidade de ouro para reinventar a forma como ensinamos e aprendemos?
Compreendo perfeitamente as inquietações que se levantam. São legítimas, profundas e ecoam em muitos sectores da educação. E é precisamente por isso que considero tão valioso podermos ter este tipo de conversas. A minha intenção não é defender a tecnologia, mas sim contribuir para que saibamos usá-la com sentido crítico, pedagógico e humano.

Professor de Informática no Agrupamento de Escolas João de Deus*
Tenho trabalhado intensamente com professores e alunos nesta área, precisamente para evitar que o ChatGPT seja apenas um 'carro a estacionar sozinho'
Afirmar que o ChatGPT (ou qualquer outra ferramenta) leva inevitavelmente à desaprendizagem é, na minha visão, uma generalização perigosa. O problema nunca esteve na calculadora, na biblioteca ou agora na inteligência artificial. O problema está — como bem apontam alguns colegas — na utilização efetiva e no contexto em que se integra.
Nesse sentido, os professores têm, de facto, uma enorme responsabilidade: a de orientar, ensinar a questionar, desenvolver pensamento crítico e guiar os alunos no uso inteligente, ético e criativo das ferramentas disponíveis. Ignorar estas ferramentas, pelo seu potencial de comodismo, é também abdicar da nossa função de educadores do presente. A escola poderosa de há 40 anos também formava para o mundo de há 40 anos. Hoje, o mundo é outro — e a educação tem de o ser também, sem perder a sua dimensão humanista.
Tenho trabalhado intensamente com professores e alunos nesta área, precisamente para evitar que o ChatGPT seja apenas um “carro a estacionar sozinho”. Desenvolvi formações e livros que procuram empoderar os docentes e os estudantes, ajudando-os a usar estas ferramentas de forma consciente, responsável e pedagógica. Convido quem me lê a explorar esse trabalho — talvez deva começar pela apresentação “ChatGPT na Sala de Aula: Apresentação Pronta com a Fórmula DIRE-Q”, que mostra como podemos transformar o risco da infantilização numa oportunidade de crescimento e reinvenção educativa.
Mas, no fundo, nem a minha resposta está totalmente certa, nem as críticas estão totalmente erradas. É na fricção respeitosa entre visões diferentes que surgem novas ideias. Como gosto de dizer, discutir com pessoas inteligentes não cria muros — abre caminhos. E é por isso que agradeço a quem levanta estas questões com coragem e profundidade.
A discussão está longe de terminada. Mas talvez isso seja um bom sinal: quando discutimos educação com seriedade, é porque ainda acreditamos que podemos (e devemos) melhorá-la.
*Autor do livro “ChatGPT para Professores“, autor do livro “ChatGPT para Estudantes” e fundador e gerente da Webfarus Marketing Digital (www.webfarus.com)
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