Num tempo não muito distante, os jornais eram verdadeiros faróis da democracia, iluminando os cantos mais obscuros da sociedade com rigor, independência e coragem. Eram veículos indispensáveis para a formação de opiniões informadas, onde o público encontrava uma análise crítica dos acontecimentos, uma plataforma para o debate plural e um espaço de denúncia para os abusos de poder. No seu auge, os jornais desempenhavam um papel central na construção de uma sociedade mais justa e transparente, garantindo que as vozes de todos, e não apenas das elites, fossem ouvidas.
Hoje, porém, vivemos numa era em que o papel da imprensa, particularmente a impressa, se encontra fragilizado. A revolução digital, com as redes sociais e o jornalismo instantâneo, transformou radicalmente o panorama mediático. Se, por um lado, a velocidade da informação trouxe vantagens indiscutíveis, por outro, a qualidade, a profundidade e o rigor jornalístico muitas vezes ficam para trás. Num espaço onde as fake news se propagam a uma velocidade estonteante e onde o algoritmo define o que devemos ler, os jornais perderam a preponderância que outrora tinham.
Uma imprensa livre será sempre mais vital para a sociedade do que o próprio governo, pois permite aos cidadãos estarem informados e exercerem o seu papel na governação
Os jornais eram mais do que simples mensageiros de notícias; eram instituições de confiança. O jornalista era visto como um investigador da verdade, um guardião da ética, cujas palavras podiam derrubar governos ou expor injustiças. A liberdade de imprensa, conquistada com tanto esforço, era uma garantia de que o poder seria escrutinado e que os cidadãos teriam acesso a informações fiáveis e relevantes.
É certo que os tempos mudam e que a imprensa precisa de se adaptar às novas realidades. Contudo, o que não pode ser esquecido é o valor inestimável de um jornalismo que resista às pressões comerciais, políticas e tecnológicas. Precisamos de uma imprensa que continue a ser independente, que priorize o interesse público e que coloque a verdade acima da velocidade ou da popularidade.
Em Portugal, o papel da imprensa local, como o Postal do Algarve, continua a ser vital. Estes jornais são o coração das comunidades, focando-se nos temas que mais interessam à população, muitas vezes ignorados pelos grandes media. Porém, a sobrevivência destas publicações está também em risco, num ambiente económico adverso e com leitores cada vez mais dependentes de fontes de informação digital, muitas vezes não fiáveis.
É fundamental reconhecermos o valor insubstituível dos jornais enquanto instrumentos de fortalecimento democrático. Eles são o antídoto contra a desinformação, a voz dos cidadãos e o espelho das sociedades. Sem uma imprensa livre e vigorosa, a democracia enfraquece e os abusos de poder prosperam.
Cabe-nos a todos, leitores, jornalistas, empresários e decisores políticos, agir em defesa dos jornais. É urgente apoiar modelos sustentáveis que garantam a viabilidade económica das publicações, sem comprometer a sua independência editorial. A educação para os media deve ser promovida, para que as novas gerações compreendam a importância de consumir informação de qualidade.
Também nós acreditamos que, tal como afirmou Thomas Jefferson, o terceiro presidente dos Estados Unidos, “Se me fosse possível decidir se deveríamos ter um governo sem jornais ou jornais sem um governo, não hesitaria um momento em preferir o último.”
Esta citação reflete a importância atribuída à liberdade de imprensa como fundamento essencial para a democracia e para a manutenção das liberdades civis. Uma imprensa livre será sempre mais vital para a sociedade do que o próprio governo, pois permite aos cidadãos estarem informados e exercerem o seu papel na governação.
Hoje, mais do que nunca, precisamos de nos lembrar de que os jornais são, ou deveriam ser, os pilares da democracia. A sua missão de informar com rigor e imparcialidade é essencial para que as sociedades possam prosperar de forma equilibrada e justa. Não deixemos que a voragem do digital destrua um dos alicerces mais importantes da nossa liberdade. Afinal, a democracia só sobrevive quando o povo tem acesso à verdade.
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