O mínimo que se pode dizer deste livro Os meus pais estão a envelhecer, como apoiar no dia a dia, por Maria José da Silveira Núncio com Carla Rocha, Ideias de Ler/Porto Editora, 2019, é a singularidade de pôr sob a forma de manual a gente entre aproximadamente 40 a 50 anos, um conjunto de alertas de algo que inevitavelmente lhes irá bater à porta – o envelhecimento dos pais e a sua crescente necessidade de cuidados.
Parece fazer parte da maturidade haver uma certa distanciação ou adiamento sobre os pais seniores, que entraram ou irão entrar numa etapa exigente, que obriga a grandes adaptações individuais, familiares, organizativas e logísticas. Essa gente na maturidade será confrontada com desafios, os deles e os dos pais, a mudança de ritmos e de rotinas, a forma de adaptar os espaços, a conciliação de tempos, a angariação e organização de ajudas. Há que proteger os pais e preservar e respeitar a autonomia deles, havendo situações em que parece que os filhos vestem a pele que coube aos seus pais.
Tudo pode acontecer de repente, e vai mudar a vida da gente na maturidade e na idade sénior – uma queda, um AVC, uma doença incurável, ou um quadro de envelhecimento que debilitou os nossos pais. Daí as autoras falarem em exigência em acompanhar o processo de envelhecimento dos pais, a diversidade e multiplicidade de solicitações e respostas, a vivência de emoções contraditórias. Por isso, este livro aparece como orientação prática, lembra a necessidade do apoio emocional, e como esta fase da vida dos pais tem esse desafio de reforçar a união e os aspetos familiares.
O envelhecimento é um processo natural, há que saber olhar para os sinais, saber estar desperto e alertado para perceber como os nossos pais precisam de apoio
O envelhecimento é um processo natural, há que saber olhar para os sinais, saber estar desperto e alertado para perceber como os nossos pais precisam de apoio; saber aceitar e desdramatizar o envelhecimento, e, sempre que possível, a tempo e horas ponderar opções para o futuro, o mesmo é dizer avaliar as necessidades, contribuir para a organização da vida dos pais, partilhar decisões, procurar explorar opções para apoios domiciliários, aprender a comunicar para tirar proveito mútuo das conversas difíceis, tanto sobre questões financeiras e patrimoniais como sobre cuidados médicos ou necessidades quotidianas, enfim, ter sempre presente comunicar não é infantilizar e que a comunicação deve fazer-se de forma clara e verdadeira – assim se promove o respeito e a consideração mútuos.
Nunca perder a ideia de que nunca somos pais dos nossos pais, há que evitar a inversão de papéis, até ao limite (é o caso das dolorosas e inescapáveis demências); e o cuidador precisa muitas vezes de ser cuidado, para ultrapassar mágoas do passado, encontrar novos equilíbrios no relacionamento com o conjunto familiar, aprender a evitar a sobrecarga e a redescobrir que é indispensável termos tempo para nós próprios. Estabelecido o novo equilíbrio, há que ponderar a vida social dos pais, criar formas de lhes cativar a mente, e de toda a maneira de lhes promover a autoestima.
E aqui as autoras alertam para os princípios básicos do que deve ser o envelhecimento bem-sucedido: a higiene, o regime alimentar mais adequado e a prevenção da malnutrição, encontrar fórmula para que a casa dos nossos pais tenha conforto e segurança, seja convenientemente iluminada, impeça quedas, se necessários corrimãos bilaterais, uma cozinha prática.
E há também, para esta gente em maturidade, saber conciliar trabalho e família, há que cuidar do cuidador, enfim, e como somatório de sucesso para pais e filhos em maturidade, desdramatizar o envelhecimento e normalizar a tarefa de cuidar.
A todos os títulos, uma obra recomendável a quem está na maturidade e anseia que os seus pais envelheçam com sucesso e muito amor filial.
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