Todos nós temos o desejo de ter uma segunda vida, fomos educados com a crença de uma vida melhor para além da morte.
Nunca acreditei nessa segunda existência porque nunca vi ninguém regressar para viver de novo na superfície da Terra, pelo menos fisicamente. Se o “eu” é uma entidade adstrita ao corpo, com duração ‘ilimitada’, então pode existir sucessivamente em mais do que um corpo, poderemos falar em ‘alma’ com existência imaterial e sem recordações das vidas anteriores, eu tenho muitas dúvidas quanto à viabilidade desta hipótese, eu não tenho recordações de vidas anteriores, será porque esta é a primeira vida do “eu” ou será que não existe de facto memória delas? Não quero debruçar-me aqui sobre a origem do “eu” que cada um de nós refere muitas vezes por dia, há quem diga que vem do céu, mas o céu não existe é apenas uma ilusão óptica diurna, na realidade há apenas espaço infinito, segundo os nossos actuais conhecimentos muito limitados.
Por vezes imagino que se tivesse outra vida faria “isto e aquilo”, mas isto é uma projeção para o futuro que sei que nunca acontecerá, penso porque decerto desejo no fundo do meu ser, sem que esse desejo extravase o meu subconsciente, embora me possa influenciar na tomada de decisões. “eu penso logo existo” é um axioma que está demonstrado por si mesmo, por isso não posso duvidar da minha existência, posso é questionar-me sobre a minha função, ao nível físico e ao nível do “eu”, se é que não são uma e a mesma coisa. A minha (nossa) função será aquela que mal enxergamos ou será uma função de meros peões num tabuleiro universal de experiências? Nunca o saberei porque a minha existência é muito curta em relação a esse “jogo de xadrez”.
Eu comando o meu corpo, por isso estou a escrever este texto, o meu corpo obedece-me, mas porque é que eu dou ordens ao meu corpo, por vezes contraditórias com a sua própria existência física, é o caso dos suicídios? Repare-se que esta formulação linguística pressupõe que o “eu” é uma entidade distinta do corpo. Será mesmo distinta? Esta é uma discussão muito interessante.
Sempre que tomo uma decisão faço-o por impulso, pela razão, pela intuição ou por exclusão de partes, no contexto e nas condições existentes em cada momento, não posso criticar ou elogiar as decisões tomadas depois de conhecer o resultado e em condições diferentes. Posso e devo meditar porque tomei aquela decisão e não outra, apesar de isso não responder à questão de fundo sobre o porquê de uma certa ‘linha’ de decisões ao longo do tempo. Sou autor da minha vida ou sou um mero peão? A única afirmação que posso fazer é que o contexto social nunca foi predominante nas decisões relativas à minha própria existência.
“Eu” continuo a comandar o meu corpo para além daquilo que me é dado conhecer.