Há muitas famílias que assumem a responsabilidade de se substituir à escola no ensino aos seus filhos. Têm legalmente esse direito e algumas famílias têm essa necessidade, a estas não tenho nada a opor e louvo essa atitude.
Uma coisa é o direito legal e a capacidade de uma família assumir essa responsabilidade, outra coisa é o direito da criança aprender a vida no contexto social que a acompanhará ao longo de toda a vida. Uma família tem o direito de assumir o lugar da escola no ensino, mas não tem o direito moral de truncar a socialização dos seus filhos.
Se numa primeira fase da vida de uma criança a família alargada, avós, tios, primos e vizinhos, é suficiente para a aprendizagem social, numa fase posterior necessita de aprendizagens sociais mais vastas as quais só a escola pode proporcionar.
O que coloco em causa não é a aprendizagem das matérias curriculares e a educação, as quais a família ensinará, o problema é a ‘destreza social’ que só se adquire na própria sociedade, tal como só se aprende a nadar dentro de água. São as amizades e inimizades, é o aprender a diferença entre a amizade e o interesse, os amores e desamores, a bondade e a maldade, o discernimento em situações concretas, a aprendizagem da argumentação e contra-argumentação, o aprender a guerrear (faz mais falta do que possa parecer), as brincadeiras e os jogos, e, é ter a noção directa de pertença a grupos sociais.
A escola é a transposição da sociedade, pelo que uma família por mais que se esforce não se consegue igualar ao meio social na escola.
A minha experiência de vida, ao nível pessoal e profissional, permite-me afirmar que a falta de convivência em certos contextos durante a infância e adolescência, terão um efeito negativo de sentir falta de ‘qualquer coisa’ em situações muito específicas ao longo de toda a vida, que o próprio nem sempre consegue identificar.
Creio que, em termos de desempenho funcional na sociedade, as crianças ensinadas pelos pais não fazem diferença significativa das crianças que frequentam a escola, pelo que não vejo vantagens em as crianças não frequentarem a escola.
A minha opinião é que a família tem a obrigação de educar e ensinar as suas crianças, mas em regime de complementaridade da escola.