O Algarve, localizado a sul de Portugal, é uma região conhecida pelas suas paisagens deslumbrantes e praias de areia douradas beijadas pelo mar azul. O turismo desempenha um papel crucial na economia e na identidade do Algarve, atraindo milhões de visitantes todos os anos.
Este ano, o Instituto Nacional de Estatística registou uma média mensal de 2.657.276 (dois milhões, seiscentos e cinquenta e sete mil, duzentos e setenta e seis) dormidas em estabelecimentos de alojamento turístico entre os meses de Junho a Setembro.
Será este modelo turístico o mais adequado e sustentável para a região do Algarve?
No ano de 2021, de acordo com os dados dos Censos, a região do Algarve contabilizou aproximadamente 467.495 (quatrocentos e sessenta e sete mil, quatrocentos e noventa e cinco) residentes. Como reflexo da dimensão turística na área, no verão de 2023, o número de pernoites em estabelecimentos turísticos representou 5,6 vezes o contingente populacional algarvio, o que evidencia uma notória massificação do turismo durante a época alta na região.
O turismo em massa é a modalidade turística que se caracteriza pela significativa afluência de visitantes a um destino específico durante um determinado período.
Embora a economia do Algarve tenha vindo a ser impulsionada predominantemente pelo setor turístico ao longo dos anos, onde este impacta positivamente a criação de emprego, o desenvolvimento de infraestruturas, o estímulo do comércio local, o aumento da receita fiscal, os investimentos em tecnologia e inovação e, sobretudo, na promoção do empreendedorismo no tecido empresarial, o turismo em massa verificado tem acarretado igualmente consequências desfavoráveis ao crescimento sustentado da região.
À medida que a região atrai um grande número de turistas durante a época balnear, torna-se imperativo analisar de que forma esse crescimento impacta o Algarve.
Um dos desafios do turismo, talvez o maior, é a superlotação, na qual os turistas exercem uma pressão significativa nas infraestruturas locais e aumentam o tráfego. Isso pode resultar em impactos ambientais como a degradação dos ecossistemas, mas, principalmente, problemas relacionados com a poluição e produção de resíduos sólidos.
Outro problema evidente na região é a gestão de recursos, destacando-se a preocupação com a utilização de água no período corrente de escassez hídrica.
Uma terceira questão reside na precarização das condições de trabalho e na importação de mão-de-obra não qualificada e não adaptada para servir o turismo e proporcionar a hospitalidade tão característica da região.
Os desafios decorrentes do turismo em massa no Algarve devem ser pensados em torno de uma gestão sustentável e definição de estratégias baseados no desenvolvimento comunitário e no turismo nas épocas baixas.
Atualmente, já existem algumas atrações, eventos e outros tipos de turismo que procuram atenuar os efeitos do turismo massificado e são exemplos disso, o turismo de golfe, o turismo geológico e ambiental (onde destaco o aspirante Geoparque Algarvensis), o turismo criativo e de cultura (Algarve Craas and Food) e até o turismo de bem-estar (termalismo de Monchique ou os centros de meditação). A importância da divulgação das características da nossa região e dos projetos criados reside na diversificação de turismo e na minimização da pressão do turismo de sol e praia, promovendo experiências autênticas e enriquecedoras para os turistas.
A diversificação do turismo desempenha um papel crucial na sustentabilidade da região atendendo às necessidades dos residentes contribuindo para um setor turístico mais equitativo e no desenvolvimento da região do Algarve. Já Miguel Torga dizia: “Todo o semeador semeia contra o presente”.
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