Sabem o que é? É como pôr a vaidade e a humildade a partilhar uma sombrinha na Praia da Rocha: o espetáculo é garantido, o desconforto também. A vaidade, de óculos espelhados e uma toalha de marca tão cara que nem dá para secar o sal do banho, lá está, estendida e convencida de que o mundo gira para a admirar. Já a humildade? Essa vem de chinelos gastos, traz a lancheira cheia de carapaus fritos embrulhados no jornal do dia anterior e fica a olhar para o mar, como quem agradece por existir. Ambas estão no Algarve, mas só uma delas pagou a estadia com “Milhas & Co.”
A verdade é que a vaidade e a humildade não se suportam, e ainda bem, porque juntas fariam um desastre monumental. Imaginem só: uma pessoa simultaneamente convencida de ser a melhor e achando que não vale nada. Não funciona. Isso é síndrome de D. Sebastião depois de um almoço com demasiada alfarroba.
O problema da vaidade é que é como um peixe balão: infla-se e infla-se, mas não vale grande coisa para comer. É vistosa, claro, e nos primeiros cinco minutos até achamos graça. Mas depois cansa. Quem é que tem paciência para uma pessoa que não consegue passar uma tarde no Zoomarine sem partilhar 37 stories? Parece que o Instagram foi criado só para ela. A humildade, por outro lado, nem sabe usar o telemóvel. E se souber, diz que é só para ligar à tia de Beja e saber como está o bacalhau no forno. O problema é que, no mundo das selfies e dos filtros, a humildade não é propriamente o protagonista. Não há lugar para fotos com a legenda: “Eu não fiz nada de especial hoje, mas obrigado por me deixarem existir.”
No Algarve, as duas têm um terreno fértil para o duelo. A vaidade adora os iates em Vilamoura, os rooftops em Faro e os sunsets em Albufeira. A humildade, coitada, contenta-se com uma sardinhada em Portimão e um passeio pelas salinas de Castro Marim. E sabem o que é mais curioso? Os turistas adoram ambas. Uns vêm para exibir o bronze de catálogo e o sotaque londrino adulterado. Outros vêm porque ouviram dizer que aqui é o paraíso e que os algarvios têm aquele talento especial de te servir uma bica com simpatia genuína. Uns querem mostrar o Algarve; outros só querem estar nele.
Mas talvez a vaidade e a humildade precisem uma da outra, como o mar precisa da maré. A vaidade dá-nos a ambição de fazer coisas bonitas: uma casa caiada impecável, um arroz de lingueirão que te faz chorar (e não é da pimenta), uma festa no verão onde toda a gente parece saída de uma revista. A humildade, essa, lembra-nos que não somos mais do que ninguém e que um pôr do sol em Lagos é bonito com ou sem filtro. No fundo, a humildade é aquele amigo que segura o balão da vaidade quando está prestes a rebentar.
E eu? Eu estou aqui no meio, como qualquer algarvio sensato. Com a vaidade de quem sabe que vive num sítio especial, mas com a humildade de quem agradece ao céu por não ser agosto o ano inteiro. Descobre e depois conta-me tudo sobre este duelo eterno. Mas antes disso, vamos lá à tasca, que o caril de camarão não espera.
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