A avareza e a generosidade são como dois irmãos em guerra, sentados na mesma mesa de jantar, numa daquelas tascas algarvias onde o pão com manteiga é cobrado à parte. A avareza olha para a conta com ar de detetive, a fazer cálculos mentais para perceber se alguém comeu mais do que devia. A generosidade, coitada, já está a pensar em pagar tudo e ainda deixar uma gorjeta tão gorda que o empregado terá de inventar outra palavra para “obrigado”. Ambos estão em permanente desacordo, e é essa tensão que faz o mundo girar.
A avareza é desconfiada por natureza. Desconfia de promoções, de rifas e até da boa vontade dos outros. É aquele tipo de pessoa que, quando vai ao mercado de Olhão, tenta regatear o preço dos figos, mesmo sabendo que estão a 1,50€ o quilo há mais de vinte anos. A generosidade, por outro lado, compra os figos, o mel e ainda pergunta à vendedora como está o neto, oferecendo boleia para casa no final. E quando chega a altura de dividir o que comprou, fá-lo com um entusiasmo tão grande que só percebemos depois que ficámos com mais do que ela.
No Algarve, as duas têm um campo de batalha rico. A avareza aparece no aluguer das espreguiçadeiras: “Cinco euros para quê? Para estar deitado?! Mais vale estender a toalha no chão!” E a generosidade, ao lado, paga por uma extra, só porque o casal alemão com ar de lagostas ficou sem lugar. A avareza recusa-se a pagar um mojito num bar de praia, convencida de que a água do mar é suficiente para hidratar. A generosidade compra um para cada amigo e ainda oferece um ao barman, só porque “parecia cansado”.
O engraçado é que ambas têm uma lógica própria. A avareza acredita que está a salvar o mundo da sua própria decadência económica. Não se trata de ser egoísta, mas sim de ser estratega: “Por que gastar em coisas que não são essenciais?” O problema é que, para a avareza, essencial é tão elástico como o preço do gasóleo em agosto. A generosidade, por sua vez, age como se o dinheiro fosse inventado para desaparecer, um ato mágico e constante. “Se não o gastares, ele perde o valor!” — diz ela, antes de pagar mais um jantar coletivo com a confiança de quem nunca olhou para o extrato bancário.
E aqui entre nós, qual é a melhor? É difícil dizer. A avareza cria poupanças que, no futuro, podem ser úteis — para comprar uma casa, por exemplo, ou pelo menos pagar a entrada para estacionar na Ilha de Tavira. Mas a generosidade tem a capacidade rara de transformar estranhos em amigos e amigos em família. Quem nunca esteve num churrasco em Loulé, onde o anfitrião, generoso como só ele, abre a última garrafa de medronho caseiro com um sorriso que diz “é para isto que estamos aqui”?
O equilíbrio, como sempre, está no meio. Um algarvio sensato sabe que há dias para poupar e dias para gastar. A avareza e a generosidade precisam uma da outra, como a praia precisa do sol e os caracóis do orégão. Porque, no fim do dia, a generosidade sem limite leva-nos à falência, mas a avareza sem trégua transforma-nos naqueles velhos resmungões que guardam o sal em pacotinhos roubados da esplanada.
Por isso, descobre, experimenta, e depois conta-me tudo. Mas paga tu a próxima rodada, que eu hoje estou a ser generoso… só com as palavras.
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