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Co-fundador da TSF, RDP e Agência Lusa
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Lá de cima, Castro Marim, é o olhar a 360 graus. Como se fosse um enorme mosaico de cortar a respiração. Vastos horizontes a perder de vista: Monte Gordo, Vila Real de Sto António, Tavira, Ayamonte, Andaluzia… e o grande rio do sul a abraçar o mar. E para norte, a serra ondulante de estevas e de cheiros a alecrim e rosmaninho. Com acenos do Alentejo! Em redor tudo! Como se ali fosse o centro da terra e tudo girasse à sua volta.
Mas o castelo tem outro castelo lá dentro, onde há muitos anos se estabeleceu a primeira sede da Ordem de Cristo e se guardaram os segredos dos cavaleiros do Templo e do Infante.
Foi praça de defesa avançada contra castela e a moirama. O forte de S. Sebastião completava a linha de defesa. Um outro forte, de menores dimensões, de importância estratégica vital, foi ainda construído no cerro da Rocha do Zambujal, a nascente da vila, mas ligando-se quer ao antigo castelo, quer ao núcleo de São Sebastião. É o revelim de Santo António, uma pequena fortificação em forma de ferradura, dominante sobre o curso do guadiana e erguida precisamente para controlar as entradas e saídas do largo estuário do rio.
E hoje, olhando para o alto do castelo e do forte, não se acredita que aquelas elevações, em vez de dois altos morros que o são, foram duas ilhas.
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Mas a este património histórico construído, junta-se também uma riqueza natural inestimável: a Reserva Natural do Sapal de Castro Marim, cheia de vida, de cores, de sons e movimento. Uma teia complexa de canais e pequenos espelhos de água espraiando-se por mais de 300 hectares. Um paraíso de fauna e de flora!
E a cozinha por aqui é tão variada como a sua paisagem. Do mar, as douradas e os robalos. Do rio, a taínha e o muge. O sapal dá os caranguejos. E ainda o sal, uma actividade que já vem, pelo menos, do tempo dos romanos, e que marca e conserva o passado de Castro Marim e lhe tempera o futuro.
A serra e os seus pequenos povoados, para além dos pratos de carne de porco, das favas e das ervilhas, guarda ainda velhas tradições artesanais. Pequenos tesouros cada vez mais preciosos, porque cada vez mais raros: o trabalho em empreita, cestaria e tecelagem. E as rendas de bilros, que são o orgulho das mulheres que vão entrelaçando com mãos habeis o fino fio!
Histórias que a memória tece, neste outono que a custo se vai despedindo do verão. Com a praia Verde, a do Cabeço e a de Altura, ali ao lado. A despertar os sentidos quentes de saudade!
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