A tuberculose é uma doença infeciosa, altamente contagiosa, que está documentada há milénios. Já Hipócrates, na Grécia Antiga, dizia que a “tísica” era a doença mais fatal do seu tempo. Associada à degradação do ser humano, pensava-se que era somente sofrida pela população pobre e mais desfavorecida, pelo que era conotada com a miséria e a subnutrição. Em 1882, Robert Koch reconhece o bacilo causador da doença M. tuberculosise em 1905 ganha o Prémio Nobel.
Mas não nos alonguemos na doença. Façamos um salto para o início do século XX em Portugal. Tanto para contar! Tantas vidas que foram tocadas pela Estância Sanatorial do Caramulo – que, durante meio século, tratou, de modo ímpar, o flagelo da tuberculose pulmonar.
Foi extraordinária a dinâmica – tanto a nível hoteleiro como hospitalar e mesmo social – que naquele espaço se desenvolveu. Por lá passaram várias personagens politicas, da aristocracia e da alta finança, e o seu corpo clínico, graças à competência profissional demonstrada, alcançou um assinável prestígio, tanto em Portugal como no estrangeiro.
Mas quem foi o visionário desta estância do Caramulo? Quem esteve por detrás desse gigantesco empreendimento num local geograficamente “ideal” para a cura desta horrível doença? Um local difícil para o desenvolvimento da construção de edifícios e infra-estruturas que seriam de “topo de gama”.
Falamos de uma modernidade pioneira, pois houve inovação a muitos níveis, como é referido na obra intitulada “Caramulo – Ascensão e Queda de uma estância de Tuberculosos”, publicada pela editora By the Book.
Nela afirma o Autor, António Barros Veloso:
«Quando Jerónimo de Lacerda decidiu instalar a Estância Sanatorial do Caramulo em Paredes do Guardão, apenas existiam no local velhas casas de antiga povoação e um pequeno núcleo de construções de madeira (…) Mas nos dez anos seguintes, vai assistir-se a um surto de construção que deu origem ao vasto aglomerado constituído por cerca de vinte unidades de internamento – sanatórios e pensões-e por numerosos chalés».
Esse empreendedor Jerónimo de Lacerda, natural de Tondela, segue os estudos em Coimbra, mas parte para a I Grande Guerra, onde participa na horrenda Batalha de La Lys em 1918. Regressado a Portugal, inicia o seu trajeto como médico, mas evidenciando também uma admirável capacidade como empresário visionário.
A tuberculose, também conhecida por peste branca,ataca todos os estratos sociais. E num país atrasado, como era o nosso, esta Estância está associada ao percurso do Estado Novo e revela “profundas marcas das diversas fases do longo consulado Salazarista”. Na verdade, a tuberculose chega a toda pirâmide social. E a alta sociedade pode agora substituir a Suíça pelo Grande Hotel do Caramulo.
Como escreve António Barros Veloso na obra que estamos a citar, tanto o local como o fundador, as infraestruturas, a arquitectura e os aspectos científicos, são dignos deste registo em livro, não esquecendo igualmente as ligações políticas que, inevitavelmente, são odiapasão da vida deste microclima da Estância do Caramulo.