Nesta altura em que o Japão criou o Ministério da Solidão, para combater problemas causados pelo isolamento social como o suicídio, à semelhança do que o Reino Unido fez há três anos, muitos portugueses podem estar a questionar-se qual a situação em Portugal.
Em Portugal, há algo que tem vindo a ser testado, e que já está muito avançado no Reino Unido a nível nacional, que poderá ser uma das soluções. Chama-se “Prescrição Social”. Esta prática pressupõe que a saúde e o bem-estar das pessoas sejam reconhecidas como algo dependente do estilo de vida e envolvimento pessoal, familiar, social e comunitário. Estes, na maioria dos casos, precisam de ser ensinados, promovidos, valorizados e motivados.
A Prescrição Social é um instrumento que permite aos profissionais nos cuidados de saúde primários (médicos de família, enfermeiros e psicólogos, entre outros) encaminharem os utentes para os serviços não clínicos existentes na sua comunidade, no sentido de um apoio à sua saúde e bem-estar. Estes serviços não clínicos, existentes na sua comunidade, podem ir desde um grupo de caminhadas a um grupo de voluntariado. Trata-se de uma referenciação comunitária pelo próprio sistema de cuidados de saúde primários.
Não raras vezes um olhar atento durante longos tempos de espera em unidades de saúde públicas, tais como centros de saúde e hospitais, depara-se com a procura de soluções para o que observa. Desde buracos no tecto ou nas paredes, a mármores encardidos, passando por pisos escorregadios onde se partem ou torcem membros.
À semelhança do que se começou a fazer há anos nas empresas, sob o chapéu de “responsabilidade social”, em que, por exemplo, dezenas de voluntários de uma empresa ajudam uma IPSS a ter um novo rosto através de trabalhos de reabilitação dos seus edifícios, podemos fazer o mesmo para os utentes do SNS sob o chapéu da prescrição social. Tendo em conta que cada vez mais pessoas sofrem de depressão e ansiedade, podemos, por exemplo, em regime de voluntariado melhorar a saúde mental da população ao mesmo tempo que se melhora o património nacional da saúde. A desculpa do “não há verba” ou “não podemos abrir concurso” não entraria aqui.
Mesmo em pleno confinamento como o que vivemos, a Prescrição Social é possível. Tudo pode passar para o online, mesmo o grupo de caminhadas e o grupo de voluntariado mencionados. Pois, o objectivo principal é apoiar a população nas suas necessidades emocionais, sociais e práticas. Benefícios como a motivação por contribuir para a sociedade, estrutura e rotina, auto-confiança, auto-estima, participação social e criação de rede, e aprendizagem podem ser apenas alguns exemplos. Em resumo: a comunidade enquanto fonte de saúde.
*Marta Pimenta de Brito é Psicóloga Doutorada Especialista Clínica e do Trabalho com consultório privado no Centro de Lisboa, é Cientista Clínica em multinacionais americanas, é Membro da Comissão de Saúde Mental do Health Parliament Portugal, é Professora Convidada em Universidades Portuguesas e Estrangeiras e foi recentemente Mentora na Comissão Europeia no Hackathon EUvsVirus.
Licenciada em Psicologia pela Universidade do Porto, Doutorada em Acesso à Saúde Mental pela Universidade de Zurique e Pós-doutorada em Retenção de Pacientes pela Universidade de Harvard, conta ainda com formação executiva em Comunicação e Media pela Universidade de Harvard, tendo sido eleita uma das best spokesperson Europe por Bruxelas.
Fala fluentemente alemão, inglês e espanhol, tem uma vasta lista de publicações científicas, bem como uma presença assídua nos media e em conferências internacionais, e a sua paixão é ajudar pessoas e organizações a atingir o seu bem-estar.
Em Julho passado participou no maior debate sobre saúde mental em televisão no Programa Prós e Contras da RTP: Saúde Mental…A Epidemia Oculta.