Queria ser uma “velhinha cor-de-rosa” que se sentasse pela manhã e desfiasse as contas do rosário da sua vida e de preces dedicadas a Deus.
Queria parar e descansar repensando naquilo que vivi. Mas não!
Percebi que sou uma caminheira que não consegue parar e, mesmo entre as quatro paredes que me cercam, corro mundo procurando o grão de felicidade que Deus algures me deixou para eu saborear.
Assemelho-me aos famintos daquelas zonas onde se morre de fome, quando alguém lhes vai dar um pouco de alimento, eles, depois de saciados por umas horas, buscam na terra algum grão que ficou e lhes dará sustento para um pouco mais.
Dispus-me a caminhar todos os dias e lançar-me na procura de um mundo novo como se pudesse começar uma nova vida e tivesse nascido outra vez.
Tranquilamente azul
Há uma apoteose de rosas no seu jardim. Gosta de falar com as flores, o mar e as pedras da praia da sua meninice. E quando pode, é um tu cá tu lá com o seu vizinho Ibn Qasi.
Maria Olímpia Mendes, aos 94 anos, queria ser “uma velhinha cor-de-rosa”, como tantas outras, sentada a desfiar o rosário da sua vida. Mas, na sua calma aparente, ferve uma lava turbulenta aquecendo memórias e pensamentos. E curiosidades ansiosas das coisas que não viveu. É uma caminheira. Não pára. Os seus dias são um eterno recomeço na busca constante do seu grão de felicidade. E as flores são como o seu sorriso. Tranquilamente azul como as águas da sua praia!
Caçadores de Histórias
Este espaço está aberto à criatividade de todos os leitores que sempre imaginaram, um dia, poder tornar públicos os escritos dos cadernos escondidos nas suas gavetas do tempo.
Há um mês, Rodrigo Santana contava a história de “o menino, o homem e as andorinhas”. Tornou pública a arte de José Pilar, que aos 93 anos descobriu que não há idade nem tempo para soltarmos a beleza adormecida que existe em cada um de nós. Hoje é a vez de Maria Olímpia Mendes, uma eterna jovem que aos 94 anos escreve como pinta: a cores de aguarelas com o perfume das flores e a frescura do mar da sua infância.
Se tiver histórias de vida, do quotidiano, suas ou de pessoas que conheça, atreva-se. Este espaço é seu. Escreva e envie-nos os seus textos para: [email protected]