A pandemia de CoViD-19 expôs fragilidades sociais que já conhecíamos. Uma dessas fragilidades diz respeito ao isolamento a que grande maioria da população idosa se encontra sujeita, distante dos centros urbanos, sem rede familiar próxima, contando muitas vezes com ajuda dos vizinhos, das juntas de freguesia e serviços sociais dos municípios. O confinamento e demais restrições de circulação isolaram, ainda mais, grande parte desta franja populacional do território interior, não deixando de atingir outros grupos sociais. É necessário, em tempo de pandemia, e de não pandemia, reforçar as redes de suporte de proximidade.
Entendemos, graças a esta lição aprendida em largos meses de confinamento, que as bibliotecas, em articulação com os serviços sociais, educativos e comunidade em geral, podem contribuir cada vez mais para a criação duma sociedade mais inclusiva.
“A biblioteca é um espaço de socialização e proximidade contribuindo para ter uma comunidade mais justa e solidária, uma cidadania mais formada e mais informada, indispensável a uma Sociedade justa, equitativa e democrática e assim com uma clara vocação social inclusiva e comunitária”.*
A biblioteca, por si só, constitui um instrumento público de investimento na melhoria da qualidade de vida das pessoas e na coesão social. Conscientes do seu papel, as bibliotecas revelaram uma nova forma de servir a comunidade: contar histórias por telefone aos utilizadores, de forma a minorar o isolamento e solidão; horas do conto online, com histórias a quebrar a monotonia do confinamento; serviços de “take away”, ou mesmo entrega ao domicílio de livros, de forma a que o leitor não ficasse sem acesso a este bem precioso; serviços móveis com recurso a viaturas ao serviço da comunidade, com partilha de livros, revistas, saberes, conversa, música, sorrisos…
É necessário dar maior visibilidade a projetos e iniciativas que mostrem o âmbito social das bibliotecas, no sentido de os incentivar e fomentar, mostrando que contribuem para atenuar os desequilíbrios sociais, gerar pensamento critico e cidadania inclusiva.
As bibliotecas públicas têm um grande impacto social, operam em torno de determinada população, uma comunidade concreta, atendem a uma grande diversidade de interesses e expetativas. Esses variam muito, em função da realidade social, económica e cultural dessa mesma comunidade, que as bibliotecas conhecem bem e por isso desenvolvem projetos adaptados à mesma. Começando por trabalhar mais em torno do setor cultural, depressa alargaram o seu foco de ação, assumindo um papel social e de inclusão. Há muito que as bibliotecas deixaram ser só depósitos de livros ou locais de estudo, são locais de debate e troca de ideias, de desenvolvimento, espaços de equilíbrio de desigualdades sociais, que prestam serviços de proximidade, adaptados à comunidade que servem.
Acreditamos que o trabalho atualmente desenvolvido pelas bibliotecas envolve e inclui a comunidade onde se insere, contribuindo para a formação e informação das pessoas, dando o seu contributo na criação de uma cidadania mais consciente, informada e ativa.
“Os serviços da biblioteca pública devem ser oferecidos com base na igualdade de acesso para todos, sem distinção de idade, raça, sexo, religião, nacionalidade, língua ou condição social. Serviços e materiais específicos devem ser postos à disposição dos utilizadores que, por qualquer razão, não possam usar os serviços e os materiais correntes, como por exemplo minorias linguísticas, pessoas deficientes, hospitalizadas ou reclusas.”**
* “Tercer sector social i biblioteca pública: compartint valors per la igualtat i la inclusió“. Por Francina Alsina e Luís Toledano.
** MANIFESTO DA IFLA/UNESCO SOBRE BIBLIOTECAS PÚBLICAS, 1994.
Tina Castro
(Biblioteca Municipal de Castro Marim – [email protected])