A ansiedade financeira é um sentimento de preocupação recorrente, medo ou desconforto com as nossas finanças pessoais. Afeta inúmeras pessoas, tendo repercussões na saúde financeira, mas também com impactos significativos na saúde psicológica e física.
A expectativa e pressão da sociedade para atingir um certo nível de vida pode levar algumas pessoas a compararem-se com outras e a sentirem-se frustradas e tristes. As nossas redes sociais estão cheias de manifestações de aparente “riqueza” – carros, casas, viagens, objetos, etc., podendo levar a comparações e ao surgimento de ansiedade. Neste caso, poderá ser mais útil comparar-nos a alguém que tem menos do que nós e perguntarmo-nos como farão essas pessoas para lidarem com as dificuldades e terem uma vida com significado.
Ao longo da vida, um individuo pode passar por situações difíceis, mudanças e incertezas a nível financeiro, tais como, perder o emprego, falências, divórcios, redução no salário, despesas extras e situações de incumprimento, fazendo com que esteja frequentemente preocupado e ansioso.
Existem também pessoas que têm muita dificuldade em gerir as suas despesas e gastos e estão constantemente endividadas. Nos relacionamentos, a ansiedade financeira pode despoletar conflitos, nomeadamente quando há diferenças de opinião em como lidar com as finanças familiares, levando a discussões e ruturas.
A ansiedade financeira pode levar a sintomas de stress, ansiedade, crises de pânico e depressão, afetando a qualidade do sono e as capacidades cognitivas, prejudicando as funções laborais e a vida pessoal, aumentando o risco de doenças cardíacas e outros problemas de saúde física.
Os jovens e os que estão em transição para a idade adulta podem sentir que não conseguem efetuar o seu percurso normal de autonomização, usufruírem de um emprego condigno, terem habitação estável e efetuarem planos para o futuro, surgindo sintomas de tristeza, irritabilidade e ansiedade e deixando de fazer as tarefas que habitualmente faziam, como sair com os amigos e realizarem atividades desportivas.
Lembro-me perfeitamente de uma conversa que tive recentemente com um casal jovem, ambos jornalistas, que falavam da sua imensa ansiedade, visto terem contratos precários, sem a mínima estabilidade financeira, com dificuldade em conceberem planos para o futuro, devido à incerteza em cumprirem com as suas necessidades e obrigações financeiras.
É importante focarmo-nos em algumas estratégias para lidar com a ansiedade financeira, tais como,
aumentar os conhecimentos financeiros, partilhar as preocupações financeiras, gerir melhor o orçamento doméstico, conhecer a nossa situação financeira, registar onde, como e quando gastamos o dinheiro que temos disponível e verificarmos onde podemos reduzir os nossos gastos financeiros.
Devemos controlar o nosso orçamento doméstico regularmente. Na página do Plano Nacional de Formação Financeira (https://www.todoscontam.pt/), podemos obter informações relevantes sobre como planear o orçamento familiar e outros dados relevantes.
É importante que se identifiquem os vieses cognitivos, as emoções e os comportamentos que estão na base de más decisões financeiras que levam, por sua vez, ao alastrar da instabilidade emocional e financeira.
A relação entre dificuldades financeiras, saúde mental e capacidade de resolução de problemas financeiros estão profundamente ligadas. A perda económica pode deteriorar a saúde mental, o que, por sua vez, prejudica a capacidade de lidar eficazmente com os problemas financeiros.
A ciência psicológica pode constituir uma mais-valia no âmbito da Educação Financeira, usando modelos e ferramentas úteis, contribuindo para trazer a compreensão e o conhecimento sobre os aspetos motivacionais, cognitivos e emocionais dos hábitos e comportamentos financeiros.
É crucial aprendermos a gerir a nossa ansiedade financeira e adotarmos comportamentos que nos possam ajudar a fazer escolhas financeiras que nos façam sentir mais confiantes, aumentando a nossa literacia ao nível da educação financeira, sendo que, em alguns casos poderá ser necessário apoio psicológico.
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