Olhei para o resto do rodapé e percebi que era imperativo continuar a pintar: aquilo estava tudo mal feito e, tal como o contorno das portas, precisava de mais tinta, desta vez pela minha mão firme a manusear o pincel.
“A retidão e firmeza fazem falta em tudo…” pensei, comparando a vida em geral à eficiência no mundo da pintura da construção civil, no qual às vezes me integro.
Não digo que a retidão e firmeza de carácter sejam assim tão escassos quanto algumas pessoas crêem, mas sem dúvida que se nota, mesmo ao longe e num instante, quem detém tais predicados.
Rectidão e firmeza.
A confundirem-se com a honra e o civismo.
Firmeza e retidão.
A fundirem-se com posturas mais compostas; com fiabilidade e cavalheirismo.
Entretanto cheguei a uma parte curva e tive que ajeitar a firmeza de pulso de maneira a manter a retidão…
“Raios: linhas curvas a direito são um desafio superior!”
Consegui. Saiu direitinha. Fiz a linha curva direita e adaptei a teoria que, no silêncio da pintura, havia desenvolvido.
A retidão pode ser curva. Desde que firme, honrada, fiável e cívica.
No fim endireitei as costas e detive-me a observar o resultado, impecável e direitinho, desejando que um dia, ao olhar para trás, conclua que pintei assim a vida: com retidão e firmeza… mesmo nas linhas curvas.