O quadro conceptual de cada pessoa é construído ao longo da vida, pela sua formação científica e pela sua capacidade de abstração e análise dos factos, com mais ou menos paixão, com ou sem racionalidade. Por isso, cada um de nós pensa de forma diferente acerca de cada assunto. É neste contexto que fiz uma pequena reflexão sociopolítica de alguns conceitos genericamente aceites e raramente contestados.
DEVER CÍVICO DE VOTAR
Serve para convencer, aqueles que nada têm, a votar nos representantes dos que têm tudo, por vezes legitimando interesses inconfessáveis.
Em minha opinião, e na Lei, não se trata de um dever, se fosse seria obrigatório ir votar, é antes um direito político de participação na organização e funcionamento da sociedade, inscrito na Constituição e na Lei Eleitoral, que pode ser exercido ou não. Não é por acaso que quase metade dos cidadãos, em condições de votar, se abstêm de o fazer. Talvez porque não acreditem no sistema eleitoral nem apoiam um sistema político que consideram ineficaz em várias vertentes.
PÁTRIA, HINO e BANDEIRA
São conceitos que servem para convencer os pobres a irem morrer na guerra para defenderem os interesses daqueles que não esperam lá ir nem os seus familiares. Formalmente são símbolos inscritos no artigo 11º da Constituição.
Na prática sociopolítica de qualquer país, ao longo dos séculos, o significado material de tais conceitos é substancialmente diferente da forma como são aceites hoje pela sociedade.
Todos os países têm uma pirâmide social com a base muito alargada e pouco alta, o que significa que existe uma minoria de cidadãos que dominam política e economicamente toda a sociedade. É com base nesta realidade que apresento uma interpretação daqueles símbolos.
Pátria é o ‘território’ da classe social possidente dos meios de produção económica, que as classes socialmente inferiores vão defender, por todos os meios, como se fossem donos de tais meios de produção.
Hino é um cântico em honra de alguém ou alguma coisa, que se destina a aglomerar as diferentes sensibilidades psicológicas numa certa direção em torno de um objectivo. Na realidade destina-se a convencer os cidadãos a juntarem-se em torno de um certo conjunto de interesses políticos, sociais, religiosos, desportivos ou outros.
Bandeira, descendente dos brasões familiares dos senhores que dominavam económica e politicamente certas regiões, tribos ou burgos, é um símbolo de reconhecimento imediato de um povo ou de um exército adstrito a um determinado território, tornando mais fácil a aproximação entre dominados e dominadores. Eu vejo-a como um pedaço de pano.
Hino e bandeira são símbolos utilizados na actualidade também por coletividades desportivas, de lazer e por unidades militares especificas.
Não tenho nada contra e respeito quem segue estes conceitos. Contudo, tais símbolos têm um significado e uma abrangência diferentes no meu entendimento de ser vivo. Assim, a minha Pátria é o planeta Terra, o meu Hino é a Verdade e as minhas Bandeiras são a Paz, a Sinceridade e a Amizade.
Eu respeito e discordo de algumas crenças e opiniões de toda a gente, também o meu pensamento pode ser sempre sujeito ao contraditório.
Sou um cidadão não acrítico.
* Licenciado em Economia pelo ISEG – Lisboa
Mestre em Educação de Adultos e Desenvolvimento Comunitário pela U. Sevilha
Professor aposentado