Em número recente da revista Saúda, da Associação Nacional das Farmácias, Jaime Pina, conceituado médico pneumologista vinha alertar para este grave problema que dá pelo nome da resistência aos antibióticos, que possui várias causas, que podem ser os próprios microrganismos que aprendem a resistir a estes fármacos, a ingestão frequente e inadvertida de antibióticos usados na criação de gado, na piscicultura e nalguns setores da indústria alimentar, sem o devido controlo; mas a principal causa está no uso inadequado dos antibióticos, a sua utilização em situações em que eles não estão indicados (constipações, resfriados, gripes, outras viroses) ou a sua utilização incorreta (não cumprimento da posologia diária ou do tempo total do tratamento).
Devemos muito aos antibióticos, graças à descoberta da penicilina, vai para um século, podemos hoje conter doenças como a tuberculose, a sífilis e algumas pneumonias. Só que este progresso revolucionário levou a uma banalização, à utilização de antibióticos para toda e qualquer situação, mesmo que não se trate de uma infeção. As entidades de saúde matraqueiam vezes sem conta informação sobre as infeções comuns, recordando que estas podem ser provocadas por vírus ou bactérias, mas que o efeito dos antibióticos só se verifica sobre as bactérias. As gripes, as constipações, o sarampo, a varicela ou a papeira são provocadas por vírus, pelo que a toma de um antibiótico não traz qualquer benefício.
Como observa no seu artigo Jaime Pina, apareceram as superbactérias, as que se mostram resistentes a todos os antibióticos disponíveis, e que podem abrir a porta a uma das maiores calamidades em saúde pública.
Por isso, o uso prudente dos antibióticos é o modo sugerido para o nosso comportamento, é assunto de todos nós, cabem responsabilidades a todos os intervenientes na área da saúde. Ao médico, porque lhe compete avaliar as queixas do doente para distinguir entre uma infeção bacteriana ou uma infeção vírica, explicando ao doente que nas tais gripes e constipações os antibióticos são completamente ineficazes; ao farmacêutico, porque lhe compete recusar a dispensa de antibióticos sem receita médica; ao doente, não insistindo junto ao farmacêutico para que este dispense o antibiótico sem receita médica, seguir com rigor as recomendações do médico e do farmacêutico quando à dose, modo e horário de toma e cuidados a ter, sempre que lhe for prescrito um antibiótico; e, não menos importante, não interromper a terapêutica, mesmo que se sinta melhor, cumprindo sempre o tratamento prescrito até ao fim.
Moral da história: para combater a resistência aos micróbios impõe-se uma frente comum. Quando estamos doentes, devemos pedir conselho ao médico ou ao farmacêutico e saber de antemão que os antibióticos, em muitas situações, não são a melhor solução. Vivemos hoje sob a ameaça de ficarmos sem defesas perante bactérias causadoras de infeções, anteriormente tratáveis com os antibióticos disponíveis, mas que se tornaram resistentes a todos eles.
Cada um de nós pode contribuir a título individual para evitar a resistência aos antibióticos, só os tomando quando eles são prescritos e prevenindo as infeções pela prática de uma boa higiene, o mesmo é dizer, lavando as mãos com frequência com água e sabão (pois assim previne-se a doença e o uso de antibióticos) e cozinhando bem os alimentos dentro das chamadas regras da segurança alimentar.
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