Durante os últimos anos, temos vindo a assistir a um papel cada vez mais preponderante da ciência psicológica nas mais diversas áreas de atuação das Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia.
As autarquias têm como missão atender ao bem-estar das populações e dos seus munícipes, com responsabilidades ao nível de vários pelouros, tais como Habitação, Urbanismo, Ação Social, Saúde, Educação, Proteção Civil, Juventude, Ambiente, Desporto e Recursos humanos.
Os psicólogos trabalham num espaço de grande abrangência nas mais diversas atividades e funções, junto de vários públicos e em diferentes contextos, contribuindo para uma melhor qualidade de vida e bem-estar da população, sendo inúmeras as evidências científicas do custo-efetividade e dos resultados positivos da sua ação junto da Administração Local.
Em 2 de março último, realizou-se o III Encontro dos Psicólogos da Administração Local, fruto da parceria entre a Câmara Municipal de Lisboa e a Ordem dos Psicólogos Portugueses, onde se partilharam experiências e boas práticas, e se entregaram prémios e menções honrosas a vários Serviços de Psicologia pertencentes a Municípios e Juntas de Freguesia que desenvolvem projetos relevantes e inovadores nas diferentes áreas da ciência psicológica.
Na área da educação, salienta-se a promoção da saúde psicológica na comunidade escolar, quer ao nível da avaliação e intervenção psicológica aos alunos das diversas escolas, quer ao nível da conceção e desenvolvimento de inúmeros projetos, tais como, desenvolvimento das competências socio-emocionais, medidas de combate ao insucesso escolar e promoção do sucesso educativo, programas de promoção da saúde mental, bullying, orientação escolar e vocacional, entre outros.
Existem inúmeros psicólogos a trabalhar na área social e da saúde, em várias temáticas, desde a elaboração de planos de saúde mental, à promoção e intervenção na saúde mental junto da comunidade, com consultas de apoio psicológico à comunidade socioeconomicamente desfavorecida, igualdade de género e violência doméstica, entre outros.
Assistimos, a uma preocupação crescente dos eleitos locais, quanto à necessidade de existirem locais de trabalho saudáveis para os seus trabalhadores, levando ao emergir do papel preponderante da Psicologia da Saúde Ocupacional, na promoção da saúde psicológica, apoio psicológico aos trabalhadores, avaliação dos riscos psicossociais e implementação de projetos e ações diversas, visando o bem estar dos trabalhadores e, por consequência, a redução do absentismo, acidentes em serviço e o aumento da produtividade.
A Ordem dos Psicólogos Portugueses tem assinado inúmeros protocolos com autarquias do país, no âmbito da literacia em saúde psicológica e na avaliação de riscos psicossociais junto dos trabalhadores, visando aumentar a informação e a resiliência psicológica da população e a criação de locais de trabalho saudáveis.
A subida do índice de envelhecimento da população portuguesa é uma realidade com que as autarquias se defrontam. Os psicólogos são profissionais qualificados, para ajudar numa melhor qualidade de vida dos cidadãos seniores e estimular mudanças de comportamento da população geral ao longo do seu ciclo de vida, permitindo um envelhecimento mais saudável.
Em 14 de abril último, no âmbito da campanha lançada pela Ordem dos Psicólogos Portugueses, intitulada “Comunidades Pró-Envelhecimento”, edição 2022/2024, foram distinguidas e entregues “selos” Comunidade Pró-Envelhecimento a 72 Juntas de Freguesia ou Câmaras Municipais, cujas políticas, programas, planos estratégicos e práticas demonstraram um compromisso forte e efetivo com a promoção do envelhecimento saudável e bem-sucedido ao longo de todo o ciclo de vida (https://www.comunidadesproenvelhecimento.org/).
O Serviço Municipal de Proteção Civil tem a importante missão de “prevenir no território municipal os riscos coletivos e a ocorrência de acidente grave ou catástrofe deles resultante” e efetuar o socorro a toda a população. Neste âmbito, os psicólogos têm um papel importante ao nível da intervenção em crise, junto das populações, na prevenção do dano psicológico, na mitigação à reação aguda de stress, e no restabelecimento do funcionamento adaptativo.
No quadro da descentralização administrativa, temos assistido à transferência de competências da administração central para os municípios, nas áreas da Educação, Ação Social e Saúde, exigindo um grande esforço e capacidade de resiliência para as autarquias, com necessidade de alocarem mais recursos humanos, sendo premente criar ou reforçar a presença de mais psicólogos nestas áreas em prol dos cidadãos.
Na área dos recursos humanos, os psicólogos organizacionais podem ter um papel preponderante, efetuando entrevistas de avaliações de competências e avaliações psicológicas no âmbito dos vários concursos para recrutamento na função pública, diagnósticos organizacionais, análise e descrição de funções, gestão de conflitos, formação e consultadoria.
Os autarcas convivem diariamente no terreno com o empobrecimento das populações locais, devido aos baixos salários, ao aumento da inflação e do nível de preços de bens e serviços, à subida das prestações do crédito à habitação, entre outros, com imensas famílias a efetuarem pedidos de ajuda alimentar a várias instituições. A Ordem dos Psicólogos Portugueses lançou a campanha “Ponto Final à Pobreza” pretendendo que a Psicologia contribua, enquanto ciência e profissão, na luta pela erradicação da pobreza (finalapobreza.pt).
Numa área menos conhecida, a Psicologia Ambiental, em conjunto com outras ciências, pode dar um contributo valioso, no pensar do planeamento das cidades, refletindo e efetuando propostas, por exemplo, na arquitetura e urbanismo dos espaços envolventes, procurando maximizar o bem-estar físico e psicológico dos munícipes.
As populações querem ser compreendidas e apoiadas para que as suas necessidades e aspirações sejam incluídas nas políticas públicas autárquicas. Os psicólogos podem e devem ter um papel preponderante no apoio aos dirigentes e eleitos locais, nas tomadas de decisão e serem agentes de mudança na nossa sociedade.
Os autarcas necessitam de todo o conhecimento disponível na ajuda aos munícipes e, sendo a Psicologia a ciência do comportamento, tem de estar na primeira linha no apoio à incrementação de políticas públicas concelhias que privilegiem o bem-estar de toda a população, transformando cada município num local agradável para trabalhar e viver.