Na mitologia grega, Panaceia (ou Panacea em latim) era a deusa da cura. O termo “panaceia” também é muito utilizado com o significado de remédio para todos os males. Haverá mesmo um remédio para todos os males?
Panaceia, neta de Apolo, o Deus da medicina, seu pai Esculápio e sua irmã de Higia, deusa da saúde, limpeza e sanidade, figuraram como testemunhas do juramento que todos os médicos de orgulham de fazer no ato da formatura, que todos conhecem como o Juramento de Hipócrates: “Eu juro, por Apolo, médico, por Esculápio, Higia e Panacea e por todos os deuses e deusas, a quem conclamo como minhas testemunhas, juro cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue: […]”
Entretanto, muitos séculos depois, o juramento mudou de forma, atualizando o conteúdo, pela primeira vez na Declaração de Genebra (1948), e que agora reza assim:
"Eu, solenemente, juro consagrar minha vida a serviço da Humanidade. Darei como reconhecimento a meus mestres, meu respeito e minha gratidão. Praticarei a minha profissão com consciência e dignidade. A saúde dos meus pacientes será a minha primeira preocupação. Respeitarei os segredos a mim confiados. Manterei, a todo custo, no máximo possível, a honra e a tradição da profissão médica. Meus colegas serão meus irmãos. Não permitirei que conceções religiosas, nacionais, raciais, partidárias ou sociais intervenham entre meu dever e meus pacientes. Manterei o mais alto respeito pela vida humana, desde sua conceção. Mesmo sob ameaça, não usarei meu conhecimento médico em princípios contrários às leis da natureza. Faço estas promessas, solene e livremente, pela minha própria honra."
Sim senhor, solene é. Mas, pensando bem, eu adicionaria como corolário uma citação de Linus Pauling (Prémio Nobel da Química em 1954, Especialista em Vitamina C),
A melhor Medicina de todas é ensinar as pessoas a não precisarem dela.
(a tradução da frase original em inglês pelo Google, perde muito, ou talvez, somente faça fugir a boca para a verdade, substituindo a palavra Medicina por Remédio, que em português não é a mesma coisa).
Voltando à Panaceia. Qual seria, então, o remédio para todos os males?
Poderia ser o Sol, mas seria muito injusto para os esquimós. Podia ser o Iodo, sim, o Iodo, elemento químico pertencente à família dos halogéneos, já que a sua falta faz nascer bebés com cretinismo, e quando suplementado às futuras mães, desde o início da gravidez, traz ao mundo crianças com Coeficiente de Inteligência, significativamente e estatisticamente mais elevado, quando medido aos dois anos.
Ou poderá ser a Vitamina C … (imaginem-me agora, sorrindo, a esfregar as mãos).
Comecemos com duas premissas. Duas premissas para defender uma tese. Em ciência, as premissas são pressupostos, que se assumem verdadeiros, e a tese será a hipótese de trabalho, ou a conclusão. Se as premissas estiverem corretas, a hipótese é logicamente verdadeira, ou seja, resistirá a todas as possíveis tentativas de a refutar.
- Os nossos genes estão connosco há muitos milhões de anos, e melhor do que nós, sabem o que estão a fazer, graças a mecanismos a que chamamos Evolução e pelos quais estamos aqui hoje. (voltaremos a este tema mais tarde)
- Todas as doenças começam por um excesso de inflamação, provocado por qualquer agente interno ou externo, que ultrapassa a nossa capacidade de a reverter.
Em termos bioquímicos podemos descrever esta segunda premissa com o seguinte enunciado equivalente: o que causa todas as doenças, sem exceção, é um excesso de oxidação nas nossas biomoléculas, que as impede de funcionar normalmente.
Trocando isto por miúdos, oxidação é quando uma molécula perde um eletrão passando de um estado reduzido a um estado oxidado. Isto aplica-se a qualquer que seja a molécula, DNA, proteína, lípido, enzima. Quando essa molécula perde um ou mais eletrões, das duas, uma, ou perde parcialmente ou perde totalmente a sua função. Molécula oxidada? Já não serve para nada!
Agora: há imensos agentes que oxidam biomoléculas – chamam-se toxinas. Pró-oxidantes, radicais livres, ROS (i.e. Reactive Oxigen Species), veneno, são tudo sinónimos de toxina e, portanto, inimigos da nossa saúde. Qualquer que seja a forma que nos apareçam, provocam toxicidade e a seguir uma qualquer doença secundária evolui, por oxidação, em qualquer tipo de tecido, quer dentro quer fora das células.
A terapia, ou seja o remédio, portanto, é conseguir dar eletrões a estas biomoléculas oxidadas, e os recursos que temos para o fazer vai determinar nossa a capacidade de parar a progressão ou até de reverter a doença. No limite, se as apanharmos logo em fase inicial até podemos reverter doenças crónicas, qualquer que ela seja.
Em suma, uma toxina é um agente pro-oxidante; um antioxidante é um agente redutor. Uma toxina tira eletrões; um antioxidante doa eletrões.
E aqui segue a Tese: embora haja por aí muitos antioxidantes, a Vitamina C é a melhor (obviamente!). Preparados?
Primeiro, porque é uma molécula pequena, hidrossolúvel, que se desloca facilmente e chega a todo o lado;
Em segundo lugar porque é uma molécula estruturalmente muito parecida com a glucose, e todos sabemos que todas as nossas células querem glucose e a Vitamina C consegue entrar dentro das células através do mesmo mecanismo usado pela glucose;
Em terceiro lugar, porque cada molécula de Vitamina C pode dar dois eletrões e não somente um, pelo que dobra em efetividade;
E em quarto lugar porque quando uma molécula de Vitamina C perde um eletrão, pode ficar indefinidamente nesse estado intermediário, onde pode entregar o segundo eletrão, ou recuperar o primeiro e esse toma-lá-dá-cá induz micro correntes elétricas, o que permite à Vitamina C trocar triliões de vezes por segundo, o que determina quão eficazmente se consegue repor etc-etc-etc Etc-etc.
Já perceberam, certo? Não é preciso explicar muito mais, pois não?
Desculpem, mas não resisto. Para aqueles que, com alguma lógica, apontariam a Vitamina E como a melhor candidata a Panaceia Universal, tenho a dizer que, sim, a Vitamina E, lipossolúvel, é o melhor antioxidante no que respeita às membranas lipídicas das células garantindo a integridade física de todas as células do nosso corpo. Não é pouca coisa. Só que nessa sua meritória e derradeira luta, a Vitamina E, que só tem um eletrão para dar, oxida-se e torna-se inativa. E eis que, se fortuitamente, por um acaso, por ali passar a nossa Vitamina C, hidrossolúvel, circulando sempre onde é precisa, deparando com a Vitamina E naquele estado lamentoso, a Vitamina C oferece-lhe um dos seus dois eletrões, regenerando-a. Voilá!
(Alguém, como o meu querido profe de bioquímica da FCUL (Ruy Pinto), sugere a Glutationa? Lamento, profe, o raciocínio é o mesmo).
Moral da história: Qual é mesmo, se existir, a Panaceia universal? A resposta, pelo menos para mim, é obvia – Vitamina C. Qual o segredo? Há que tê-la disponível antes. Também cura depois? Talvez, provavelmente não, depende do estrago, mas ajuda sempre. Aplica-se a qual doença? Todas.
Uma doença é tanto pior, quanta mais Vitamina C for necessário para a curar, disse Linus Pauling. (Premio Nobel da Química em 1954, Especialista em Vitamina C).
[Para quem quiser saber mais, recomendo o livro de Thomas E. Levy: “Curing the Incurable”) Ver link.
(continua na próxima semana)
Leia também: Abaixo de cão | Por Teresa F Mendes