A inflação é a medida da subida generalizada e contínua do preço dos bens de consumo.
Trata-se, em última análise, de um mecanismo de redistribuição dos rendimentos, específico do sistema económico capitalista, entre os detentores de rendimentos fixos, salários, pensões, rendas, depósitos a prazo, certificados de aforro, títulos do tesouro e títulos de obrigações, e os detentores de rendimentos variáveis, os lucros empresariais. Enquanto que os primeiros só podem ser revistos de ano a ano, ou nunca, os segundos variam dia a dia, isto é, sempre que o empresário altere os preços dos seus produtos. Enquanto uns rendimentos perdem poder de compra os outros mantêm, e melhoram, esse poder aquisitivo.
Existem vários mecanismos de controlo da inflação nem sempre consensuais. O mais polémico socialmente é querer controlar a inflação não deixando subir os salários e pensões por valores iguais à inflação, o que aliás acontece sempre na função pública e no sector privado quando há desemprego.
Este ano está previsto um aumento das pensões mais baixas e dos salários da função pública próximo de um por cento e a inflação homóloga em Janeiro foi de 3,4%. Segundo o Boletim Mensal de Estatística do INE deste mês, o IPC em Fevereiro terá sido 4,4% em relação ao mesmo mês do ano anterior, segundo uma primeira estimativa para o IPC de Março terá sido 5,3% e o índice de preços na produção industrial é de 20,3%, este amento de preços na industria vai refletir-se nos preços dos bens de consumo, o que significa que os rendimentos fixos vão perder efectivamente mais de 3% do poder de compra enquanto que os lucros crescerão na proporção direta da inflação, o que não entra nos bolsos de uns entra nos bolsos de outros.
A inflação alta e não subir salários na mesma medida é uma forma encapotada de pôr a população a apertar o cinto sem falar em austeridade.
Como se vê no gráfico, as coisas não estão bem na EU e a inflação em Portugal vai acompanhar a inflação dos outros países e como a taxa de juro continua historicamente baixa, os rendimentos fixos vão ter perdas muito acentuadas.
Quero acreditar que todos os trabalhadores não vão perder, em 2022 e 2023, mais do que perderam no tempo da troika com os cortes de salários e pensões, apesar de agora não lhe chamarem austeridade.
* Licenciado em Economia pelo ISEG – Lisboa
Mestre em Educação de Adultos e Desenvolvimento Comunitário pela U. Sevilha
Professor aposentado