A inflação é a medida da desvalorização monetária face aos bens transacionáveis e a taxa de juro representa a compensação dessa desvalorização e da utilização do dinheiro por quem o pede emprestado, na prática nunca são iguais, em regra, a taxa de juro é bastante inferior ao conjunto da utilidade e da inflação.
A taxa de juro baixa é útil por períodos não muito longos porque permite o financiamento mais barato às empresas pouco rentáveis e incentiva o consumo que por sua vez facilita o crescimento económico, mas raramente facilita o desenvolvimento económico, é a situação actual com taxa de referência zero, mas as economias não se desenvolveram.
As famílias aproveitam (bem, mas muitas vezes sem a necessária cautela) as taxas de juro baixas para comprarem casa e carro a prestações. Sentem-se financeiramente seguras porque têm trabalho, é uma ilusão traiçoeira porque de um momento para o outro surge uma crise, perdem o posto de trabalho, sobe a taxa de juro, não conseguem pagar as prestações, pelo que muitas dessas famílias acabam por perder tudo aquilo que tinham comprado.
Em Portugal, muitas famílias entraram em falência com a crise de 2009/2015, contudo essas situações (muitas) não serviram de exemplo para muitas outras que, com a recuperação económica, se endividaram pensando que estariam financeiramente seguras, puro engano, bastou aparecer a covid/19, com toda a panóplia de dificuldades, para ficarem em sérias dificuldades económicas.
O BCE desceu a taxa de juro até chegar a zero para facilitar e incentivar as empresas a investirem recorrendo ao crédito, a intenção foi boa, mas não tem dado grandes resultados, os grandes beneficiários foram, e são, os Estados grandes devedores como Portugal, mas mais tarde ou mais cedo a taxa de juro vai subir e esses Estados terão graves problemas financeiros e económicos.
Relativamente às famílias, a taxa de juro baixa não incentiva à poupança, sendo o dinheiro dirigido para o consumo, deixando os bancos sem liquidez suficiente para financiarem a economia e têm que recorrer ao financiamento externo, aumentando a dependência face a instituições financeiras internacionais e a outros países.
Actualmente, a inflação está com tendência de subida, 5% em média na EU, e o BCE vai começar a subir a taxa de juro de referência, talvez para 0,25%, por outro lado os salários em Portugal dificilmente subirão mais de 3%, o que significa que os trabalhadores vão perder poder de compra tal como os depósitos a prazo ou outros rendimentos com taxa fixa. Qualquer que seja o governo em funções quem paga são os mesmos de sempre e os ‘gordos’ continuarão a ‘engordar’.
A inflação é o principal mecanismo, silencioso, de redistribuição dos rendimentos qualquer que seja a retórica política, mas seria muito, mas muito pior se tivéssemos o ‘escudo’ como moeda em circulação, como aconteceu no final da década de 70 e inicio da de 80, quando a inflação atingiu os 30%, propositadamente por imposição do FMI, sendo a taxa de juro cerca de 20%, foi a chamada ilusão monetária.
A Economia nunca está em equilíbrio, apenas existem algumas conjunturas favoráveis as quais devem ser aproveitadas, os ciclos económicos mostram esta realidade.
* Licenciado em Economia pelo ISEG – Lisboa
Mestre em Educação de Adultos e Desenvolvimento Comunitário pela U. Sevilha
Professor aposentado