A alfarrobeira é uma árvore rara, desconhecido da maioria dos portugueses, não obstante sermos, após a Espanha, os segundos maiores produtores mundiais. O facto de nascer espontaneamente, encontrar-se dispersa por todo o Algarve (representa mais de 95% do total do pais) só tendo nos últimos 30 anos começado a existir plantações ordenadas e ainda a circunstância do seu principal destino ser a exportação explicam em parte tal ignorância.
A “farroba” como é conhecida entre algarvios reúne qualidades ímpares que permitiram atingir uma surpreendente valorização. Em 4 anos uma arroba passou de 5 para 50 euros tornando-se num bem altamente procurado pelos “amigos do alheio”. O furto de alfarroba irá este ano atingir, seguramente, níveis escandalosos. Uma extraordinária produção, o fácil acesso ao fruto, a insuficiência dos meios policias, a ausência de legislação que condicione a sua livre venda e ainda a falta de escrúpulos de alguns dos comerciantes do ramo fazem prever um negro verão.
A alfarrobeira é resistente ao calor, à seca e à salinidade não necessitando de especiais cuidados nem de tratamentos dispendiosos. Os múltiplos aproveitamentos da sua polpa e da grainha e a limitada produção mundial, quase exclusivamente nos países da bacia mediterrânica, garantem uma cotação segura com tendência para a sua valorização. Estranhamente, não obstante, termos uma das maiores produções de alfarroba, calculada em 40.000 toneladas/ ano, o seu aproveitamento industrial continua a ser efectuado no estrangeiro limitando nos na prática, no essencial à sua trituração. As alfarrobeiras são árvores de elevado porte, podendo atingir 10 a 15 metros de altura, de grande longevidade (centenas de anos), com um crescimento naturalmente lento, decorrendo um período de cerca de 10 anos entre a plantação e a sua frutificação regular, dai que ao contrário de outras culturas a da alfarrobeira não seja considerada compensadora a curto prazo.
As alterações climáticas, e sobretudo a escassez de água e o perigo de incêndios que nos atormenta e o seu surpreendente valor aconselham a um novo olhar sobre este fruto bíblico (V. Novo Testamento em Mateus 3.4 e Lucas 15.16).
Já pensaram se as opções quanto à plantação de citrinos e abacates tivessem sido outra, como se apresentaria agora o quadro agrícola algarvio nomeadamente no que respeita á poupança de água, dificuldades de mão-de-obra, risco de incêndios, custos de produção e rentabilidade da exploração? Mas como dizia a minha avó Barbara “quem advinha vai para a casinha”.