Desde tempos imemoriáveis o ser humano tem sido confrontado com dualismos e, por conseguinte, com a dificuldade de decisão perante o “desconhecido”. A complexidade e a imprevisibilidade aumentam em função da qualidade e da quantidade das variáveis em presença e especialmente, da evolução do conhecimento, da pressão social e das interacções espácio-temporais. É caso para dizer que “O velho por não poder e o novo por não saber deitam as coisas a perder”.
A situação actual decorrente da pandemia provocada pelo Covid19 e o facto de nada de semelhante ter ocorrido anteriormente, sustenta e incrementa o aparecimento desses dualismos que afectam o individuo e a própria humanidade. Enquanto uma arma convencional produz efeitos destrutivos, geralmente visíveis, de curta duração e afectando o ser humano, o arsenal moderno actua de forma invisível e cobarde atingindo proporções de contaminação democrática, duradoura e global que pode ameaçar a humanidade.
No dizer de Augusto Comte “O homem se agita e a humanidade o conduz”, pensamento que põe a descoberto a impotência do ser humano face aos destinos que a Mãe Natureza nos reserva. É óbvio que esta incerteza gera, consciente ou inconscientemente, potentes e conflituosas emoções. O sentir de que pode estar em causa a perda dos ideais de fraternidade, igualdade, liberdade e solidariedade – a que se juntam memórias, eventualmente esquecidas mas renovadas perante a cruel observação da realidade – levam-nos a reflectir sobre a importância de conhecer bem a sabedoria proverbial e os seus ensinamentos: “Lê o passado se queres preparar bem o futuro”.
Citamos, de novo, Augusto Comte “Os vivos são sempre e cada vez mais, governados pelos mortos; tal é a lei fundamental da ordem humana” para referir que a pandemia conduz ao dilema “pensar versus não pensar”. Quando se pensa na emergência, sentimo-nos impotentes e doentes; se, pelo contrário, tentamos ocupar o tempo de calamidade com actividades da nossa vida diária voltamos a sentir ânimo para continuar, de forma renovada, o normal trajecto da existência.
Uma sociedade que sistematicamente desvia a atenção de um perigo eminente para a sua continuidade, e apenas se preocupa com respostas orientadas para a sua sobrevivência física, não é psicologicamente sadia. O provérbio latino “mens sans in corpore sano”, chama a atenção para a importância da relação pensamento humano ⇒ procedimento humano. O provérbio “Cada um é artífice do seu destino” resume o essencial da sequência ideológica “O Pensamento vira Desejo, o Desejo vira Acto; o Acto vira Hábito; o Hábito vira Carácter; o Carácter vira Destino” da sanidade existencial.
A chegada do Covid19 veio colocar Portugal, uma vez mais e por motivos que estão no ADN do nosso povo, na cena internacional!!! Por entre os muitos, o do Presidente da Eslovénia – Borut Pahor – elogiou “a determinação, a coragem e a esperança dos portugueses no combate contra a pandemia da Covid-19. Outra alusão ao carácter do povo português foi-nos dada (1944) por Luís da Câmara Cascudo – advogado, antropólogo,historiador e jornalista brasileiro: “Como nenhum outro povo, Portugal tem o sentido do universal e a inquietação deambulatória que a precariedade económica do ecumeno não explicará isoladamente”.
Num outro passo, Cascudo menciona o apagamento progressivo do conto popular aos olhos dos eruditos e, dizemos nós, o mesmo acontecendo com a sabedoria proverbial. A existência da Associação Internacional de Paremiologia / International Association of Paremiology (AIP-IAP), fundada em 2008, sediada em Tavira e que dinamiza o Clube UNESCO de Paremiologia-Tavira (CUP-T) tem organizado anualmente os Colóquios Interdisciplinares sobre Provérbios (ICPs), em Tavira, motivo que originou uma nova expressão proverbial “Todos os caminhos vão dar a Tavira”. Através de um conjunto de académicos nacionais e internacionais associados ao espírito estatutário da AIP-IAP, o olhar sobre a paremiologia e suas aplicações no quotidiano tem vindo a retomar o lugar de destaque que por mérito deve ocupar. Diremos que “Mais vale tarde que nunca”.
Coincidência ou não, é de registar que no ano da evocação dos 500 anos da descoberta do Estreito de Magalhães durante a viagem de circum-navegação, Tavira recorda 500 anos de elevação a cidade por decisão de D. Manuel I. Por seu turno, a AIP-IAP vê reconhecida a sua projecção internacional por parte do executivo da Câmara Municipal de Tavira, liderado por Ana Paula Fernandes Martins, ao ter aprovado o contrato de comodato para instalação da sua sede social. Deste modo, Tavira pode juntar ao facto de ser a primeira urbe do Algarve a ser reconhecida como cidade, a circunstância de alojar no seu território a única instituição que, a nível mundial, se dedica ao estudo científico do provérbio, reconhecida pela UNESCO, e que já é conhecida como “Tavira, cidade capital mundial do provérbio”.
Ao longo da história, Portugal e os Lusos parecem predestinados a trilhar novos caminhos a realizar feitos gloriosos como nos indica Camões nos Lusíadas, Canto II, estrofe 45: ”Novos mundos ao mundo irão mostrando.” Tavira, os tavirenses, a comunidade local e a AIP-IAP dão o seu contributo para uma reflexão no domínio do riquíssimo património cultural intangível. Não sendo possível o cumprimento individual padronizado que nos caracteriza, aceitemos um abraço virtual colectivo que mais nos une, especialmente no dia 7 de Maio, data do aniversário da AIP-IAP e do CUP-T. “Onde há vontade há possibilidade” diz o povo e este é o momento para “humanizar as novas tecnologias” no dizer do virologista Pedro Simas. Diz a sabedoria popular que “Depois da tempestade vem a bonança” e, para terminar, os nossos votos de que “Tudo esteja bem”.
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