O degradante espetáculo à volta do Orçamento do Estado a que se tem vindo a assistir, com aprova-se, não se aprova o mesmo, corta-se nele aqui, para se aumentar ali, em que não têm faltado partes a acusarem-se, mutuamente, de mentir, seja aos portugueses, seja na estrita relação entre si em decorrência de clandestinas reuniões havidas, dirá bem da qualidade da designada classe política (ou de parte significativa dela) que se vai tendo, levando-nos a questionar se os respetivos membros serão, porventura, portadores de alguma ideia, dum projeto político para engrandecimento do país e não se resumirão, isso sim, a burlescas figuras fazendo da política, entre intrigas, um simples «modo de vida», um mero exercício de disputa do poder pelo poder ou, até, a meras «marionetas» manipuladas por particulares interesses aos do país procurando-se sobrepor!
“Assiste-se a fenómenos curiosos no respeitante a certos políticos quando deixam o ativo e passam à condição de reformados“
Com tal qualidade, não estranhará, pois, o assistir-se a um SNS definhando dia após dia, com utentes desesperando por uma simples consulta de especialidade ou cirurgia, a portadores de deficiências esperando há mais de dois anos por uma simples junta médica que lhes passe um atestado «Multiusos», a milhares de alunos continuando sem aulas, com um estudo recente feito em seis universidades a revelar que cerca de 23% deles sofrerá de doenças mentais, a jovens, em particular dos mais qualificados, a saírem do país à procura lá fora de uma vida digna que o país cá dentro lhes não consegue proporcionar, à falta de habitação, de creches e de lares para a terceira idade dignos desse nome, que não simples «armazéns» transformados em desumanas antecâmaras de morte onde idosos são «depositados», como tantas vezes se observa, ao crescimento das desigualdades sociais e de sem-abrigo, a famílias a recorrerem ao crédito, não já para comprarem um carro, mas para simples compras de supermercado, a desesperar-se por uma decisão judicial (mais de 100 dos designados «lesados do BES/GES» já terão falecido, sem que tivessem visto ser-lhes feita a devida justiça), assim como assistir-se, da parte do país, ao mais baixo investimento público da UE e a uma sua economia revelando-se, continuadamente, anémica, com 37,8 % das empresas a apresentarem resultados negativos no último ano!
Tudo isto, a que, ainda, se poderá acrescentar o observado no âmbito das relações internacionais, com a nossa soberania e interesses que lhe serão próprios, a ser, amiúde, subalternizada face a interesses alheios!
Eis, pois, a «classe» da classe política (ou de parte significativa dela) que se vai tendo!
PS – Assiste-se a fenómenos curiosos no respeitante a certos políticos quando deixam o ativo e passam à condição de reformados.
De repente, descobrem velhos problemas, que outros já denunciavam, como se fossem novos, apetecendo perguntar-lhes o que, enquanto politicamente no ativo se mostravam e ocupando lugares de relevo na vida pública do país, haviam feito para os combater, se é que não foram mesmo cúmplices de muitos deles!
Mas, pronto, a idade, com o consequente amadurecimento daí decorrente, sempre tornará uma pessoa mais «sensível».
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