Falar sobre como vivo, senti e continuo a viver esta data é sempre um prazer!
Podia chamar ao texto:”Das exclamações às interrogações uma viagem de ida e volta”.
Cedo, com 16 anos me exclamei e me interroguei sobre o modelo de sociedade em que vivia.
Tudo começou quando fui expulso de um determinado café que existia em Olhão apenas para sócios e seus familiares.
Acontece que eu era filho de empregado desses sócios e, sem saber, atrevi-me a pisar “solo sagrado” para brincar com os meus colega e amigos.
Exclamei-me e interroguei-me?
Já como universitário, vivi intensamente o movimento estudantil, e as exclamações aprofundaram-se mas também as respostas às interrogações!
Era o fascismo à moda portuguesa!
Quis o destino que estivesse a cumprir o serviço militar, no Regimento de Infantaria nº 4, em Faro, quando se deu a madrugada de Abril.
“Meu alferes, venha para o Quartel que há uma revolução em Lisboa!”
Uma exclamação, ainda muito contida que, em breve, respondeu à interrogação!
O Povo veio para a rua!
O papel do RI4 foi muito modesto do ponto de vista operacional mas fez o que era preciso fazer.
Decidiu sempre pelo lado da Liberdade.
E assim coube-me, por escolha do Comande e dos Oficiais que o assessoravam, “discursar aos soldados em parada, no Dia da Unidade”.
Falei de Liberdade, do fim da guerra colonial, enfim da Esperança renascida!
Mais uma exclamação que ia tendo resposta!
Assim me coube igualmente a missão de, no Primeiro de Maio em Liberdade, voltar a falar oficialmente aos Olhanenses, em nome da minha Unidade.
E digo oficialmente porque, no dia 26/27 de Abril, ao sair do comboio vindo do Quartel, fardado naturalmente, deparei-me com uma manifestação na escadaria do Palácio da Justiça, em Olhão!
Aproximei-me e quando dei por mim estava aos ombros de alguns manifestantes a falar “as massas”.
De que falei?
De Paz, Liberdade, Democracia!
Outra exclamação que me saltava do peito!
Falei-lhes, provavelmente, de um jardim à beira mar plantado, que voltava a florir e a ter sol!
Bem, já vai longo o texto e prometo terminá-lo com uma cena picaresca mas verdadeira!
Por volta de 27/28 de Abril, fui chamado pelo segundo Comandante do Quartel, homem de voz grossa mas de coração de filigrana, mais tarde poeta, que me deu a seguinte revolucionária ordem: Estes dois capitães que aqui estão, estavam envolvidos nessa coisa do 25 de Abril e estão aqui presos à ordem do Sr General, Comandante da Região Militar do Algarve!
Vá a Olhão e compre marisco para uma almoçarada!
A gentileza não se repetiu quando o lugar dos “detidos” foi ocupado pelo sr General, aliás estimável pessoa!
Por isso me incomodo e lutarei com a palavra e a memória perante novos sinais de aparecimento de filhotes do fascismo!
Não gostam da palavra, comam menos!
Os bois tratam-se pelos nomes para que não passem por bezerrinhos venturosos e fofinhos!
Com defeitos, virtudes e adiamentos, 25 de Abril sempre em construção!
Com exclamações e interrogações.
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