O mercado imobiliário em Portugal continua a ser marcado pela forte pressão da procura e pela escassez de oferta habitacional. Esta realidade tem contribuído para o aumento sustentado dos preços das casas, especialmente em zonas com grande concentração de empresas e projetos industriais.
Falta de alojamento trava investimentos
Um dos fatores que tem pressionado o mercado é a exigência legal recente que obriga as empresas que recrutam imigrantes através da chamada “via verde” a assegurar alojamento digno para esses trabalhadores, noticia o semanário Expresso desta semana. No entanto, a maioria das empresas ainda não avançou com projetos de construção de residências específicas, devido a entraves legais e fiscais.
Empresas enfrentam obstáculos
A Associação Empresarial do Minho tentou lançar iniciativas nesse sentido, mas esbarrou na falta de incentivos fiscais e na ausência de compromissos políticos efetivos. Segundo o presidente da associação, as propostas apresentadas ao Governo não saíram do papel, tornando inviável a concretização de habitações com rendas acessíveis para trabalhadores.
Turismo e indústria pressionam o arrendamento
Setores como o turismo e a indústria continuam a recorrer ao mercado de arrendamento, contribuindo para a escalada dos preços. O caso do Algarve é paradigmático, com hotéis a reservar quartos para funcionários e a adquirir imóveis exclusivamente para esse fim. Situações semelhantes têm-se verificado em Sines, onde a chegada de novos projetos industriais duplicou as rendas em apenas dois anos.
Procura supera a construção nova
A procura de habitação por parte de empresas tem sido tão intensa que, em regiões como o Alentejo, muitos imóveis nem chegam a ser anunciados publicamente. A escassez de construção nova agrava o desequilíbrio. Imobiliárias locais confirmam que a maioria dos contratos é fechada com trabalhadores estrangeiros, muitas vezes antes mesmo dos imóveis serem listados, relata ainda o semanário Expresso, que utiliza a perentória frase “Preços das casas continuarão a subir”, num dos seu artigos sobre imobiliário, presentes no caderno de Economia.
Preços mantêm trajetória ascendente
Os dados do Instituto Nacional de Estatística confirmam esta tendência. Em abril, o valor mediano da avaliação bancária por metro quadrado subiu 1% face ao mês anterior, fixando-se em 1866 euros. Segundo especialistas do setor, este aumento reflete uma desaceleração face aos meses anteriores, mas não antecipa uma estagnação.
Mercado autoalimenta-se
De acordo com a Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária, metade das transações residenciais é financiada pela banca, sendo a outra metade assegurada por capital resultante da venda de imóveis. Ou seja, o próprio mercado gera os fundos necessários para continuar a alimentar novas compras.
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Tendência anual confirma valorização
A Associação Portuguesa dos Promotores e Investidores Imobiliários destaca que a valorização continua em alta. Em termos homólogos, a taxa de variação do valor das avaliações bancárias manteve-se nos 16,9% em abril, espelhando a dificuldade de acesso para novos compradores e a valorização do património dos atuais proprietários.
Pressão nas grandes cidades
Em Lisboa e no Porto, a maioria dos arrendamentos destinados a trabalhadores estrangeiros é feita por empresas de realocação. Estas entidades atuam como intermediárias entre empresas e imobiliárias, muitas vezes fechando contratos em nome de multinacionais.
Empreendimentos travados por licenças
Apesar da procura, projetos de construção de alojamentos para trabalhadores continuam a enfrentar atrasos significativos no licenciamento. No Algarve, unidades turísticas planeadas para incluir habitação para funcionários aguardam aprovação há mais de um ano, travando a abertura de novos empreendimentos.
O Verdelago Resort, localizado entre a Praia Verde e Altura, anunciou em junho de 2023 um projeto destinado a alojar os seus colaboradores. Trata-se de um “mini-resort” com capacidade para 80 camas, situado em Castro Marim. De acordo com o promotor, a construção ainda não começou, encontrando-se na fase final do processo de licenciamento, sendo expectável que a obra tenha início ao longo deste ano.
Empresas procuram alternativas
Algumas empresas optam por soluções provisórias, como o arrendamento de hotéis ou aquisição de edifícios residenciais completos, refere o Expresso. No entanto, estas soluções têm um custo elevado e não são sustentáveis a longo prazo, segundo representantes do setor hoteleiro.
Propostas de integração habitacional
Há propostas no sentido de incluir condições de alojamento nos cadernos de encargos de obras públicas, garantindo assim a existência de camas para trabalhadores deslocados. Esta medida permitiria acelerar a resposta à procura sem comprometer o mercado habitacional tradicional.
Enquanto a procura cresce, a nova oferta habitacional continua muito limitada. O resultado é um desequilíbrio estrutural que, segundo o setor, continuará a pressionar os preços.
A conjugação de políticas de imigração, escassez de construção nova e concentração de investimento em certas regiões tem contribuído para a valorização dos imóveis. Os preços das casas continuarão a subir, sustentados por uma procura robusta e por um mercado que se mantém dinâmico, apesar das dificuldades.
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